In the Mood for Love (2000)

Direção: Kar Wai Wong
Roteiro: Kar Wai Wong
País: Hong Kong / França

"Antigamente, quando as pessoas tinham um segredo, elas subiam uma montanha, achavam uma árvore, faziam um buraco nela e sussuravam o segredo nele. Então elas cobriam o buraco com lama. E deixavam o segredo lá para sempre."

In the Mood for Love é sobre isso. Um romance que nunca aconteceu. Chow e Su se mudaram para o mesmo prédio, no mesmo andar, e assim viram vizinhos. Chow tem uma esposa e Su um marido. Mas ambos cônjuges viajam com frequência a negócios então os nossos protagonistas estão sempre sozinhos. Então Chow e Su começavam a virar amigos.

O filme tem uma sensibilidade notável e é muito mais sobre companheirismo e lidar com a solidão do que sobre amor e paixão. Percebe-se isso pelo fato de, apesar de "se amarem", os protagonistas não se beijam uma vez sequer na frente da câmera. Não só isso, mas tudo que remete a um "caso" é bem escondido pelos dois. Afinal, pessoas fofocam. É como se fosse mau visto conversar e se divertir (nada nem perto de sexo) com alguém do outro sexo se o seu cônjuge não está presente. O fato do filme se passar na Ásia e nos anos 60 ajuda.

O final é particularmente melancólico (o que eu achei ótimo), pois se passa anos depois do que aconteceu e mostra como os personagens ainda estão afetados pelo que aconteceu.

Nota 9

(Outro filme que tive dificuldade em fazer o grid pois a protagonista é simplesmente maravilhosa, vide quarta imagem)


Ruby Sparks (2012)

Diretor: Jonathan Dayton e Valerie Faris
Roteiro: Zoe Kazan
País: EUA

Um filme sobre fantasias, o combate entre realidade e ficção, escrever e, bem, manic pixie dream girls.

Manic pixie dream girl é um termo usado para quando o seguinte acontece em ficção: temos um protagonista hétero, muito tímido e constrangido e então ele conhece, quase sempre do nada, uma moça alternativa, sempre bonitinha, normalmente com cabelo colorido, que imediatamente começa a gostar do nosso mocinho e tem a intenção de levá-lo à aventuras divertidas e a viver de verdade. Exemplos: Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, Garden State, Zooey Deschannel e basicamente todos os seus personagens.

A diferença de Ruby Sparks para qualquer outro filme com MPDGs é que a realidade do nosso protagonista (Paulo Dano) literalmente se mistura com a ficção do livro que ele está escrevendo (meio como acontece no excelente Stranger Than Fiction). Ele é um cara só, rico porque escreveu um livro quando jovem e fez muito sucesso. Mora sozinho com o seu cachorro. Então começa a ter sonhos que essa ruiva linda (Ruby Sparks, interpretada por Zoe Kazan) é sua namorada caída do céu. Ele tem a ideia de escrever sobre ela e sobre o romance que eles teriam. Afinal, quem não gosta de ter fantasias? Mas então ela saí das suas palavras, assume forma física e vira uma pessoa. A namorada sobre qual ele escrevia.

No começo é tudo perfeito, claro, afinal ele criou ela. Isso faz Ruby Sparks ter uma certa vantagem sobre os outros MPDG porque nos outros filmes tudo que acontece as vezes parece bom demais pra ser verdade. Mas nesse caso não é assim porque Paul Dano literalmente escreveu como as coisas vão ser então faz sentido elas serem perfeitas do ponto de vista romântico. Digo, ele escreveu que ela é sua namorada e isso implica que ela o ama.

(Mas é claro que esse romance perfeito não dura o filme inteiro.)


O final de Ruby Sparks é um pouco forçado mas tem uma cena logo antes dele que eu gostei bastante. Quando ele fala o monólogo do seu livro novo. Ele cita uma frase clássica que diz que o escritor, no seu melhor momento, sabe que as palavras não estão saindo de ti e sim por ti. No caso, como se ele fosse um veículo que expressa seus sentimentos. E é exatamente isso que acontece.

Nota 7

To Rome With Love (2012)

Diretor: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
País: EUA / Espanha / Itália

Acho que estou ficando sem saco para filmes novos do Woody Allen.

Quatro histórias separadas em Roma. Duas envolvem italianos, as outras são com turistas. Elas não se conectam mas isso não é bom nem ruim. O problema é que nenhuma delas é engraçada ou é relevante. A história de Roberto Benigni fala sobre como a fama é efêmera e sem sentido. A do próprio Woody (e Allison Pill, aquela linda) é terrível, fala sobre como as pessoas cantam bem enquanto tomam banho (ou morte, mas né). A da Penélope Cruz fala sobre um casal do interior italiano que se perde em Roma e acaba lidando com adultério e inocência. E a história mais interessante é a de Alec Baldwin, Jesse Eisenberg e Ellen Page que fala sobre a paixão entre jovens e carreira profissional.

O papel da Ellen Page e do Baldwin são as únicas vantagens de To Rome With Love. Ela faz uma pseudo-intelectual tentando seduzir Eisenberg mas Baldwin está lá sempre para "não deixá-lo cair em tentação" afinal Jesse tem uma namorada.


Filme longo demais e raros foram os momentos em que eu ri.

Nota 4.5

Zero Dark Thirty (2012)

Diretor: Kathryn Bigelow
Roteiro: Mark Boal
País: EUA

As pessoas tem que tirar da cabeça que esse filme é propaganda americana. Zero Dark Thirty é muito mais sobre persistência individual e ambição do que sobre "a vitória dos EUA sobre os terroristas". Sabe por que demorou uma década para que ele fosse capturado? Porque uma década depois de 9/11 ninguém mais se importava com Bin Laden. Ele estava desaparecido completamente, nenhuma pista levava a nenhum lugar, ninguém tinha certeza de nada. O nosso protagonista, o personagem da Jessica Chastain, era a única pessoa no CIA que ainda queria capturá-lo custe o que custar e nem na missão final ela tinha certeza de que Bin Laden estava no lugar. Era impossível ter certeza. Mas seu instinto sabia. E foi isso que ela fez.

Também não entendo quem reclama da promoção (?!) de tortura em Zero Dark Thirty. Vocês acham que eles conseguiram as informações que tinham como? Chá das cinco com o Al-Qaeda?


Filme muito bom. Um relato frio e objetivo sobre a "greatest manhunt in history." Novamente, bom trabalho, Bigelow.

Nota 9

Breve comentário sobre o Oscar: Chastain era pra ter ganho de Lawrence.