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O Homem Duplicado (2013)

Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Javier Gullón baseado em livro de José Saramago
País: Canadá e Espanha

"O caos é a ordem ainda não decifrada."

A Grande Beleza (2013)

Direcao: Paolo Sorrentino 
Roteiro: Paolo Sorrentino e Umberto Contarello
Pais: Italia / Franca

"Tudo se resolve entre murmurinhos e barulho."

Existe algo profundamente intoxicante - num bom sentido - sobre coisas velhas e bonitas. Pode-se dizer que nosso protagonista niilista, hedonista e bon vivant Jep Gambardella é uma dessas coisas preciosas e decadentes que Roma possui. Além de, claro, suas paisagens e lugares hipnotizantes e charmosos, que foram filmados de forma excelente.

Mega Post Janeiro 2014

Ultimamente, cultivei o hábito de escrever no mínimo 200 palavras por crítica. Às vezes parece impossível, às vezes 200 é pouquíssimo - nestes casos, escrevo até cansar. Em Janeiro vi vários filmes e não escrevi nada concreto sobre eles, então resolvo fazer este resumo. Cinco filmes que vi no começo do ano.
  

 Frozen (2013)

Superestimado. É legal e aborda uns temas bem pertinentes mas não é o filme salvador da animação ocidental como todo mundo tá dizendo. Let It Go é muito boa.


Nota 7 


The Past (2013)

"Am I not suffering?"
Excelente. Do iraniano Asghar Farhadi, mesmo diretor e roteirista do também fantástico A Separation, de 2011. Esse cara sabe muito bem como fazer dramas familiares.

Nota 9


The Selfish Giant (2013)

Um daqueles dramas britânicos onde, quando o filme acaba e os créditos começam, todo mundo ainda fica sentado por um tempo pra absorver o que aconteceu. Brutal. 

Nota 8.5

Inside Llewyn Davis (2013)

"Estou cansado. Achei que uma boa noite de sono ajudaria, mas não é isso." Não tá fácil pra ninguém. O filme fala sobre um cantor de folk durante os anos 60. Engraçado que mesmo numa situação assim, consegui me identificar bastante com o personagem - quando são usados temas universais como deslocamento, existencialismo, entre outros. Um dos filmes mais apaixonados dos irmãos Coen. Nota 9


Dallas Buyers Club (2013)

Bom filme com excelentes atuações de Jared Leto e Matthew McConaughey. Os dois ganharam Oscar, afinal.

Nota 7.5

Her (2013)

Direção: Spike Jonze
Roteiro: Spike Jonze
País: EUA

Sabe quando você está em um relacionamento mas ela está em outra cidade e vocês estão no telefone mas vocês conseguem sentir a presença um do outro tão forte, como se você estivesse dentro de uma bolha protetora e confortável? Her lida com esse sentimento indiretamente.

The Act of Killing (2012)


Direção: Joshua Oppenheimer e Christine Cynn
País: Dinamarca, Noruega e UK

- Quantas pessoas ele matou?
- Umas mil.
- Como ele consegue dormir? Ele não é perturbado?
- A maioria deles ficou louco.
- Não, eles ficaram ricos.

Um documentário perturbador sobre o massacre de comunistas na Indonésia durante os anos 60. O filme tem um olhar bem peculiar a respeito, deixando com que os assassinos (membros de gangues patrocinados pelo governo) refaçam suas ações como atores. 

Numa Indonésia dos anos 60 dominada pelo militares, membros da elite da Juventude Pancasila (grupo paramilitar que ajudou o governo nos massacres) são tratados como a família real. Eles contam com orgulho histórias sobre matar, estuprar, roubar que todos fizeram. E ainda assim vivem normalmente e algumas cenas estão fantasiados como mulher pra atuarem como as mulheres que torturaram e mataram. Em algumas das particularmente doentias atuações, as crianças presentes naturalmente não sabem que os adultos estão atuando e começam a chorar e tentam ajudar os familiares que estão sendo torturados, o que deixa tudo muito mais realista e deprimente.

The Act of Killing segue na maioria do tempo um homem só chamado Anwar Congo, ele mesmo tendo matado centenas de Chineses, usando diversos métodos. Todos envolvidos no filme se exibem falando sobre as várias formas que usaram pra matar e como eles foram, por exemplo, muito mais cruéis do que os filmes de Hollywood sobre mafiosos. Mas é claro que é impossível esquecer ter cometido esses atos. Em uma cena, Anwar interpreta alguém sendo interrogado e torturado (pra em seguida ser morto) pelo método que eles mais usaram; arame envolto ao pescoço. Depois que o assassinato falso ocorre, ele demora pra voltar ao normal. Um amigo dele lhe oferece água, mas nenhuma resposta. Anwar fica simplesmente parado, olhando pro chão com olhos completamente mortos, sem dúvida relembrando as incontáveis vezes que ele fez isso com Chineses aleatórios. 

Todos tentam justificar suas ações. A maioria deles, já que décadas se passaram, não pensa mais muito sobre isso. "Um crime de guerra é definido pelos vencedores. Nos meus olhos, eu sou um vencedor e o que eu fiz não foi crime de guerra." "Eu mataria qualquer um se o preço fosse justo." 

Esse documentário vai sem dúvida deixar você pensando.

Nota 9

Before Midnight (2013)

Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater, Julie Delpy e Ethan Hawke
País: EUA

"É tipo... Essa é realmente a minha vida? Isso está acontecendo agora? (...) A cada ano, eu pareço me sentir cada vez menor e mais enterrado pelas coisas que nunca vou saber ou entender."

Acredito que todos nós compartilhamos sentimentos confrontantes quando Before Midnight foi anunciado. Claro que uma terceira parte para essa série de filmes do Linklater parece uma boa aposta, mas ainda não acabaram as ideias deles, não? Não estão fazendo mais um filme só pelo dinheiro? Digo o seguinte: se quiserem lançar um quarto, não importa o quão velhos estejam Ethan Hawke e Julie Delpy, eu topo. 

Agora em Before Midnight, de novo, nove anos depois do filme anterior, temos um vislumbre da vida romântica e adulta do nosso casal favorito, Jesse e Celine. O filme é mais maduro. O casal tem filhos e mora em Paris. Não são só conversas sobre amor e romance (apesar delas ainda serem a essência do filme); agora conversam sobre paternidade e, claro, é o que se espera de um casal junto há bastante tempo, bastante brigas. Bem, não bastante. 40% do filme eu diria que são brigas do casal. Não estou reclamando. É curioso e "engraçado" como os personagens mostram quem "realmente são" na raiva e calor de uma discussão. 

O impressionante é como essas três mentes criativas (Linklater, Hawke e Delpy) ainda conseguem criar diálogos maravilhosos que discutem aspectos tão importantes e emocionantes da existência humana em geral, em que a maioria de nós se identifica num nível extremamente profundo. Outro ponto fundamental desse filme (e da trilogia) é como Jesse e Celine sempre tem opiniões diferentes sobre certos assuntos, mas isso nunca gera discussão; é apenas a interpretação de cada personagem. Aqui vai um exemplo nesse filme que mostra isso perfeitamente:

"Um dia eu lembro de ver as gêmeas num trampolim e elas estavam tão bonitas e eu estava tão feliz porque elas estavam felizes. Uma delas estava com um bambolê mas aí a outra queria também e começaram a brigar. Então de repente eu simplesmente consegui ver tudo; todo esse ciúmes mesquinho e egoísmo. E lembro de pensar 'OK, esse é o estado natural humano.' Nunca satisfeito, sempre discontente."
"Se é isso que você pensa enquanto vê as gêmeas brincar, isso significa que você está deprimido. Quando eu as vejo brigar, eu vejo essa energia linda e elas indo pra frente na vida, nunca deixando ninguém humilhá-las ou tirar delas aquilo que querem. Eu gosto de vê-las brigarem, me dá esperança."

E é isso. As coisas não passam disso. Diferença de opiniões. Interpretações múltiplas. Tudo é tão relativo. O que mais falar sobre Before Midnight? Vá ver, se você não se importa com um romance que vai fazer você pensar um pouco.

Notat 9

Azul é a Cor Mais Quente (2013)

Título Original: La Vie d'Adèle
Direção: Abdellatif Kechiche
Roteiro: Abdellatif Kechiche e Ghalia Lacroix baseado em HQ de Julie Maroh
País: França / Espanha / Bélgica


Em uma cena perto do final, Adele e Emma estão em um bar. Adele com vinho branco e Emma, agora, com café. Entre as duas, a saudade. Adele começa a beijar a mão da, agora, loira Emma. "Sinto falta de tocar em você." Adele pega a outra mão de Emma e a força à sua virilha e o que parecia um ato doce e afetuoso agora vira carnal e sexual. É uma atração animal. "É mais forte do que eu." É como se Emma tivesse um gosto essencial, totalmente único, que incompleta Adele. E é nessa cena que fica mais claro do que nunca que A Vida de Adele é uma vida de, acima de tudo, desejo.

A Vida de Adele, apesar de Azul é a Cor Mais Quente ser um titulo apropriado (mas nem tanto) e curioso, é em suma a definição do filme. Emma, o azul, o tempero de Adele, é apenas algo que aconteceu enquanto ela transcendia de adolescente para jovem adulta, mas que deixou uma marca profunda e definitiva na sexualidade da nossa linda protagonista.

Na maioria das vezes, o filme lida com a realidade gay de forma remota, mas concisa. Quando confrontada pelas colegas ("quem era aquela mulher de cabelo azul?"), Adele sofre uma exclusão social e, junto com outras pequenas cena onde Emma é convidada num jantar na casa de Adele, são as únicas cenas onde lidamos com aspectos normalmente marcantes ou dramático da vida de um adolescente gay. Foi estranho o filme ter tocado tão pouco nesses tópicos (ser visto socialmente pela primeira vez como gay e "sair do armário" para os pais).

No filme Frances Ha, a protagonista sonha com um momento onde "vocês estão numa festa falando com outras pessoas, mas vocês trocam olhares e naquele momento você percebe que aquela é a tua pessoa nessa vida." Em uma festa com os amigos de Emma, onde Adele preparou tudo, é este o clima que temos. A felicidade no relacionamento e a aceitação social vem com tudo à Adele quando todos a aplaudem pela comida e ela agradece, tão cansada e quase chorando, em uma das sem dúvidas, cenas mais emocionantes do filme. 

Mas é afinal sobre Emma, o azul, que gira a vida de Adele. As várias (e longas) cenas de sexo mostram perfeitamente a atração entre as duas. E o relacionemento que nasce vira romântico e ideal.

Kechiche usa constantemente primeiros planos onde, mesmo em cenas de conversas ou onde Adele gesticula bastante com os braços, o rosto de Adele é o principal e único foco. Adele faz um ótimo trabalho em... simplesmente ser Adele no dia-a-dia. Entediada ou vazia; esperando ou com saudade.

Enfim, o filme prova ser um drama romântico realista e não um conto de fadas. Um dos melhores do ano.

Nota 9

Days of Heaven (1978)

Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
País: EUA

Segundo filme do mestre Terrence Malick. Tudo bem, é o segundo filme que vejo dele (o primeiro sendo a obra de arte Tree of Life), mas já é perfeitamente compreensível porque ele tem fãs tão fiéis (eu sendo um deles).

O filme fala sobre trabalho, ciúmes, luta de classes e, em geral, a fugacidade de tudo. A história gira em torno de uma tríade de personagens. Bill (Richard Gere), Abby e Linda. Eles fingem que são uma família mas na verdade Bill e Abby são namorados. Os três são classe baixa e trabalhadora e passam a vida viajando em busca de sobreviver e ganhar uns trocados. Um dia eles vão trabalhar numa fazenda enorme, colhendo trigo. O dono da fazenda (um homem com alguma doença que não tem muito tempo de vida) se interessa em Abby e eles precisam lidar com isso.

Days of Heaven, por se passar em uma fazenda no meio do Texas, é cheio de paisagens bonitas e vazias, como vocês podem ver no grid. Uma coisa que me chamou a atenção foi a sonoplastia. No começo temos muitas cenas industriais e mesmo na fazenda, durante a colheita, bastante barulhos de máquinas. Os personagens conversam pouco nessas cenas mas Malick deixou o volume das máquinas muito alto, por causa do realismo, e mal se escuta os personagens. Esse é apenas um dos detalhes interessantes do filme. 

As atuações não tem nada de especial. A trilha sonora é boa, assim como o roteiro de Malick. O melhor de Days of Heaven é, como esperado, a direção.

Nota 9


Spring Breakers (2012)

Direção: Harmony Korine
Roteiro: Harmony Korine
País: EUA

Um filme de Harmony Korine (diretor de obras como Gummo e Kids) estrelando as ex-princesinhas da Disney, Vanessa Hudgens e Selena Gomez, junto de James Franco. Sobre spring break. Todo mundo já sabia que esse seria um filme digno de atenção, mas pouca gente esperava um resultado tão interessante. 

Tudo começa no interior, onde a vida é chata. As férias estão chegando e, com elas, a Spring Break. Spring Break é um período nos EUA onde os estudantes vão pra praia (normalmente) para festejar. Leia-se drogas, bebida e sexo. O problema é que as nossas quatro protagonistas não tem dinheiro o suficiente para viajar. Três delas então decidem assaltar uma lancheria então uma noite para conseguir o dinheiro. Juventude, sabe como é. A vontade de fazer o que todo mundo está fazendo é maior do que tudo. Elas precisam ser como as outras e as outras foram pra Spring Break. Então é isso que vamos fazer, custe o que custar. "Faça de conta que é um videogame." 

Spring Breakers é acima de tudo um filme sobre a glamourização da violência, promiscuidade e crime, principalmente entre meninas adolescentes. Na primeira cena do filme já se percebe isso. Mostram-se apenas imagens típicas de uma Spring Break ao som da clássico hit de dubstep Scary Monster e Nice Sprites do Skrillex (que compôs grande parte da trilha sonora. junto com Cliff Martinez, de Drive). Quando chega o drop da música, é como se as imagens e comportamentos mostrado nas imagens fossem cuspidos na cara do espectador com uma agressividade absurda (a mesma da música). Nudez. Spring Break. Em outra cena particular onde também toca um hit clássico de Skrillex, a música se sobrepõe com declarações das protagonistas em ligações que elas fizeram pra casa relatando sua experiência na praia. A música tem a sua beleza, as imagens novamente são gente semi-nua se divertindo e o que as mocinhas estão falando te convence. É um lugar mágico. Todo mundo é tão legal, conhecemos tantas pessoas novas, estamos nos divertindo tanto, nunca quero voltar pra casa.

Só que, se você conhece Harmony Korine, você sabe que o filme dele não vai ser só o que parece ser uma propaganda da MTV. Quando o personagem de James Franco (um rapper, possivelmente o melhor papel e atuação da carreira dele; está simplesmente irreconhecível) é introduzido e ajuda as mocinhas a sair da cadeia, "por nenhum motivo aparente", o clima do filme muda. Por que homens mais velhos querem se ver cercados de mulheres mais novas, afinal? Mas na adolescência, somos todos tão ingênuos. Elas não vêem nada além de como Alien (o nome do personagem) é legal por ser traficante e rapper e ter muito dinheiro e armas e tatuagens e dentes prateados. Alien percebe a tendência à violência das meninas e começa a gostar muito mais delas.


Spring Breakers não é sobre um grupo de amigas que quer se divertir; é muito mais do que isso. É uma análise sobre uma geração vazia onde tudo é artificial (o filme é praticamente todo feito de cores neon, como dá pra ver pelo cartaz). É um relato sobre os extremos de perseguir o "sonho americano" (get rich or die trying), que vai do hedonismo do materialismo até o niilismo do "fazer por fazer."

Hipnotizante.

Nota 9


Edit: Finalmente agora posso ver porque tanta acha esse filme mais parecido com Hotline Miami do que Drive. É uma mistura dos dois, convenhamos.

Edit 2: Agora com grid!


Upstream Color (2013)

Direção: Shane Carruth
Roteiro: Shane Carruth
País: EUA

"Matar Deus é a única forma de progredir."

Esse é o segundo filme do diretor Shane Carruth. A mesma mente que criou Primer, antes atrás, ganhador do prêmio do júri do festival de Sundance de 2004. Portanto, Upstream Color era um filme aguardadíssimo. E assim como o seu debut, temos aqui um filme excelente e confuso. Aqui ele também dirige, escreve, edita, atua, e inclusive compôs parte da trilha sonora.

Sempre que eu vejo um filme muito bom (bem, na maioria das vezes) e estou formando o que escrever sobre ele, eu gosto de ler críticas boas a respeito pra ver o que exatamente gostaram no filme (se foi o mesmo que eu) e como se expressaram sobre isso no texto. No caso de um filme confuso também, mas leio para buscar interpretações que façam mais sentido que as minhas. O seguinte pensamento sempre passa pela minha cabeça: "É exatamente isso que eu penso! Queria ter pensado nisso antes ou escrito isso primeiro." Depois de umas críticas profissionais sobre Upstream Color, ninguém falou o que eu achava até eu ler um comentário do IMDb, que leu a minha mente. É, eu sei. Inclusive o título do comentário é a citação do começo desse post. As outras críticas que li também foram bastante úteis. Eles expressam com precisão como me sinto sobre aspectos do filme, de tal forma que eu nunca conseguiria dizer.

Costumo iniciar uma crítica falando da história do filme. Com Upstream Color, isso é complicado. Como diz a crítica do AV Club, falar sobre o plot desse filme é uma futilidade cômica. Principalmente, porque, como diz muito bem a crítica do LA Times, Upstream Color é um filme de "um pouco de ficção científica assustador, um pouco de romance offbeat e um pouco completamente inclassificável." É um filme que "rejeita qualquer forma de narrativa convencional." Kris, nossa protagonista, é raptada e um verme é introduzido em seu organismo. O resultado é a hipnose profunda e total submissão a seu captor. Ele diz que ela não pode olhar diretamente para ele pois a cabeça dele é feita do mesmo material do que o sol e ela acredita. Ele diz para ela vender a casa e dar o dinheiro pra ele e ela faz. Um tempo depois, o captor (chamado no filme como O Ladrão) some. Ela é então atraída (e não vou nem falar como, porque né, futilidade cômica) para um homem (conhecido como The Sampler, que brinca criando sons e porcos) que "a cura". Kris tenta seguir sua vida, agora uma "versão assombrada e pouquíssimo funcional de si mesmo", e então Jeff aparece em sua vida. Jeff é interpretado por Shane Carruth e tudo que indica que seu personagem também passou por algo como Kris. Eles se juntam para tentar talvez buscar respostas sobre o que lhes aconteceu.


O que nos resta são interpretações. É engraçado mas para mim Upstream Color é um filme sobre detalhes, fé e principalmente religião e Deus. Outro comentário do IMDb conclui que é sobre "disobediência civil à sociedade atual e seu sistema social desumano" e sobre como "matar Deus é sinônimo de revolução contra o capitalismo." Ao invés de "a única forma de progredir", como eu e outro comentário concordamos.

Eu queria muito botar grandes partes do comentário que esse cara fez aqui mas, mesmo que tenha poucos spoilers, seria apenas um texto enorme sobre religião e Deus e não faria sentido pra quem não viu o filme.

Nota 9,5

The Hunt (2012)

Direção: Thomas Vinterberg
Roteiro: Tobias Lindholm e Thomas Vinterberg
País: Dinamarca

Que filme poderoso.

O mundo é cheio de acontecimentos terríveis e injustos, mas uma coisa que me irrita muito é quando uma pequena e boba mentira é capaz de destruir a vida de uma pessoa.

Lucas (Mads Mikkelsen, o Hannibal do seriado atual) é um professor numa creche. Ele mora numa cidade pequena da Dinamarca, todo mundo se conhece e ele inclusive dá aula pra filha de seu melhor amigo. Klara, a filha, gosta muito de Lucas. Um dia Klara manda uma espécie de carta inocente de amor (um coração desenhado, apenas) e ele fica constrangido e devolve. Ela não leva a "rejeição" bem, inventa uma historinha sobre o professor e, pronto, de repente ele é um pedófilo que abusou de várias crianças da escola.

O que sempre acontece é, claro, ninguém quer saber o lado do suspeito. "Eu conheço a minha filha, ela não mente." Não existem palavras pra expressar o quanto eu acho isso revoltante. Lucas passa então grande parte do filme tentando se explicar ou apenas lidando com o que a sociedade lhe impôs. 

The Hunt, porém, é sobre muito mais do que apenas isso. É sobre traição, paternidade e medo. É um filme que te deixa tenso e irritado; isso é uma ótima qualidade. A atuação de Mikkelsen está excelente (destaque pra cena da igreja) e a direção capturou bem a atmosfera fria da Dinamarca. E o final é sensacional. 

Nota 9,5

In the Mood for Love (2000)

Direção: Kar Wai Wong
Roteiro: Kar Wai Wong
País: Hong Kong / França

"Antigamente, quando as pessoas tinham um segredo, elas subiam uma montanha, achavam uma árvore, faziam um buraco nela e sussuravam o segredo nele. Então elas cobriam o buraco com lama. E deixavam o segredo lá para sempre."

In the Mood for Love é sobre isso. Um romance que nunca aconteceu. Chow e Su se mudaram para o mesmo prédio, no mesmo andar, e assim viram vizinhos. Chow tem uma esposa e Su um marido. Mas ambos cônjuges viajam com frequência a negócios então os nossos protagonistas estão sempre sozinhos. Então Chow e Su começavam a virar amigos.

O filme tem uma sensibilidade notável e é muito mais sobre companheirismo e lidar com a solidão do que sobre amor e paixão. Percebe-se isso pelo fato de, apesar de "se amarem", os protagonistas não se beijam uma vez sequer na frente da câmera. Não só isso, mas tudo que remete a um "caso" é bem escondido pelos dois. Afinal, pessoas fofocam. É como se fosse mau visto conversar e se divertir (nada nem perto de sexo) com alguém do outro sexo se o seu cônjuge não está presente. O fato do filme se passar na Ásia e nos anos 60 ajuda.

O final é particularmente melancólico (o que eu achei ótimo), pois se passa anos depois do que aconteceu e mostra como os personagens ainda estão afetados pelo que aconteceu.

Nota 9

(Outro filme que tive dificuldade em fazer o grid pois a protagonista é simplesmente maravilhosa, vide quarta imagem)


Zero Dark Thirty (2012)

Diretor: Kathryn Bigelow
Roteiro: Mark Boal
País: EUA

As pessoas tem que tirar da cabeça que esse filme é propaganda americana. Zero Dark Thirty é muito mais sobre persistência individual e ambição do que sobre "a vitória dos EUA sobre os terroristas". Sabe por que demorou uma década para que ele fosse capturado? Porque uma década depois de 9/11 ninguém mais se importava com Bin Laden. Ele estava desaparecido completamente, nenhuma pista levava a nenhum lugar, ninguém tinha certeza de nada. O nosso protagonista, o personagem da Jessica Chastain, era a única pessoa no CIA que ainda queria capturá-lo custe o que custar e nem na missão final ela tinha certeza de que Bin Laden estava no lugar. Era impossível ter certeza. Mas seu instinto sabia. E foi isso que ela fez.

Também não entendo quem reclama da promoção (?!) de tortura em Zero Dark Thirty. Vocês acham que eles conseguiram as informações que tinham como? Chá das cinco com o Al-Qaeda?


Filme muito bom. Um relato frio e objetivo sobre a "greatest manhunt in history." Novamente, bom trabalho, Bigelow.

Nota 9

Breve comentário sobre o Oscar: Chastain era pra ter ganho de Lawrence.


Man on Wire (2008)

Direção: James Marsh
Roteiro: Philippe Petit
País: UK / EUA

Documentário muito emocionante sobre um equilibrista que fez a façanha de ficar equilibrado (andando e brincando) entre as duas Torres Gêmeas por mais de quarenta e cinco minutos.

A paixão (e o sonho) de Philippe Petit por equilibrismo surgiu quando ele era criança. Um dia, ele foi ao dentista e, na sala de espera, viu uma revista onde falavam sobre a construção do World Trade Center, que não havia ainda sido iniciada. A matéria mostrava uma imagem do projeto. Ele rasgou a página da revista e foi embora. "Fiquei com dor de dente por uma semana, admito, mas o que era essa dor comparado com o sonho que eu tinha recém descoberto?", diz.

O primeiro feito marcante de Philippe como equilibrista foi andar entre duas pequenas torres da catedral de Notre Dame. 69 metros de altura. Eis uma foto do evento. A segunda vez foi na Austrália, na ponte do porto de Sydney. 134 metros. Foto. E, bem, o WTC tinha 417 metros de altura. Então ele, sua namorada e mais vários amigos e contatos passaram meses planejando como fariam isso. Afinal, o objetivo deles era ilegal e eles precisavam agir às escuras. Meio que literalmente pois ficaram a madrugada inteira no telhado das torres arrumando os cabos e preparativos. Na prática, foram apenas quatro pessoas para realizar o ato. Ele e outro amigo em uma torre, e mais dois na outra. Um deles era americano e não sabia falar francês. O resto do pessoal ficou lá em baixo esperando.

O mais impressionante sobre Philippe e todos os envolvidos é a dedicação e confiança que tinham na habilidade do equilibrista. Claro, ele não era o melhor do mundo, não era impossível dele cair. Mas quando ele estava no cabo, ele se sentia livre. Feliz. No seu lugar. Tanto que brincava lá de cima, em todas as situações, deitando no cabo, fazendo malabarismo com objetos, ajoelhava... Na primeira vez que Philippe viu as Torres Gêmeas, ele percebeu que era impossível. Ele, e todo mundo, ficou perplexo pela magnitude daquilo que queriam alcançar. Convenhamos, pensa bem. Um equilibrista entre as Torres Gêmeas? Quem se submeteria a isso? Por quê? Parece realmente impossível. Philippe nem mesmo tinha confiança em si mesmo, afinal, qualquer coisa pode acontecer lá. Ele pode dar um passo e cair e morrer. "Que morte linda seria". Muitas vezes os realizadores do feito concluíam isso, mas eles não iriam parar agora, iam?


É meio difícil descrever as emoções que Man on Wire passa. "Você tinha que estar lá." A namorada de Philippe diz que chorou quando viu ele, lá de baixo das Torres, num cabo finíssimo. Só imagino o sentimento dos amigos que estavam nos topos das torres, ali perto. Uma das imagens mais poderosas do documentário, e a namorada dele descreve, foi quando, lá no cabo, ele fez aqui que está mostrado na penúltima imagem do grid abaixo. Quando já estava seguro que sabia que estava fazendo, que não ia cair, quando já estava brincando no cabo, ele saúda a câmera. Como se fosse um ator no fim de uma peça de teatro, como se dissesse "eu estou aqui, apreciem-me." Pode não ser do seu jeito mais normal, mas isso é arte. Como não apreciar? Como descrever uma pessoa assim que simplesmente vai direto em direção ao seu sonho e o realiza dessa forma? 

Quando a polícia finalmente põe suas mãos em Philippe, e logo depois os repórteres, a mídia e, bem, todo mundo, a pergunta mais comum que lhe faziam era "Por quê? Por que você fez isso?" mas o equilibrista sabia que essa pergunta não tinha resposta. Ele apenas fez. Viu aquelas torres naquela revista quando criança e decidiu que iria fazer isso. E eu o aplaudo por isso.

Nota 9.5


O Mestre (2012)

Direção: Paul Thomas Anderson
Roteiro: Paul Thomas Anderson
País: EUA

Finalmente vi no cinema (em pré-estreia!) o novo e altamente antecipado filme do mestre PTA, diretor do clássico moderno There Will Be Blood. Se este é tão bom por causa do ator principal ser Daniel Day-Lewis, Joaquin Phoenix (e Philip Seymour Hoffman) o substitui perfeitamente.

O Mestre tem dois temas centrais: o pós-guerra americano depois da Segunda Guerra Mundial e a origem dos cultos. Freddie Quell é um sujeito simples e fuzileiro naval que, como muitos soldados dos anos 50, só sabe matar pessoas. Então quando a guerra acaba e eles estão livres para fazerem o que quiserem e "começar negócios", ele fica meio perdido. Ele assume alguns hobbies e empregos como fotografia mas, novamente, como muito soldados dos anos 50, Freddie ficou traumatizado com a guerra e, bem, não funciona direito na sociedade. Ele cai na bebida. Em uma noite qualquer, ele entra de penetra em uma festa num iate. Ele dorme lá e no dia seguinte conhece o comandante Lancaster Dodd (Seymour), que, de acordo com o mesmo, é "um escritor, médico, físico nuclear, filósofo teórico, mas acima de tudo, um homem, como você."

Lancaster Dodd tem um "culto" chamado A Causa, que fala sobre aliens de trilhões de anos e viagens mentais no tempo, misturando hipnose com auto-ajuda. É, confuso, mas logo no primeiro encontro de Freddie com Dodd, quando Dodd percebe que encontrou um "discípulo e cobaia", vemos os métodos d'A Causa podem funcionar. Freddie vira o queridinho do grupo e, junto da família toda que inclui Amy Adams como esposa, eles viajam pelos EUA espalhando A Causa.

Com o passar do tempo, surge muito ceticismo. De acordo com críticos, Dodd não passa de um cultista, pois ninguém pode discordar dele e somente sua opinião é certa. Isso não é ciência. Até o próprio filho de Dodd acha que seu pai não sabe do que está falando e inventa coisas a medida em que abre a boca. Resta ao nosso protagonista Freddie distinguir mentira de verdade, gênio de lunático, ascenção de demência.


Atuações soberbas, trilha sonora pertinente, roteiro com sentido e direção, cinematografia, como de costume, única. Sem dúvida, O Mestre é um filme daqueles que pedem para ser revistos logo em que acaba. Vejam e vejam de novo.

Nota 9.5

Take Shelter (2011)

Direção: Jeff Nichols
Roteiro: Jeff Nichols
País: EUA

Sensacional! Tava enrolando pra ver esse filme desde o ano passado (burrice minha não ter visto no cinema) mas agora foi.

Curtis (Michael Shannon, de Boardwalk Empire) é um engenheiro civil cuja mãe desenvolveu esquizofrenia pelos trinta anos. Ele está nessa idade e começa a ter visões/sonhos pós-apocalítpcas e dá-se início a uma forte paranóia e cinismo do personagem. Com sua mulher Samantha (Jessica Chastain, aquela linda de A Árvore da Vida), Curtis tem uma filha surda-muda que está agendada para ter uma cirurgia. Mas com Curtis piorando as coisas mudam.

Os sonhos, como ele mesmo diz, começam com uma tempestade, como se vê no cartaz. Uma chuva com ferrugem, uma água meio laranja. E normalmente é aí que, nos sonhos, acontece algo ruim, como tentam matá-lo ou sua família. É um aviso, isso é óbvio. E é por isso que ele fica paranóico. Sabendo de seu histórico familiar, Curtis também acha que está ficando louco. Então ele resolve criar um abrigo para iminente tempestade (comum em países onde tornados são uma ocorrência constante).


Take Shelter, na minha opinião, fala mais sobre esquizofrenia do que qualquer outra coisa. Mesmo, com o passar do filme, Curtis sabendo que suas visões não tem muito sentido, ele tem essa premonição de que algo terrível vai acontecer. Não tem como explicar. Durante as visões dele e em alguns momentos onde ele (quase) perde o controle, a gente sente muito medo. Felizmente sua mulher e filha sempre estão presentes para ajudá-lo. 

O filme tem duas cenas em particular que são fantásticas e, se você já viu, é meio óbvio saber quais são. Excelente filme. Atuações ótimas. Esses dois atores têm muito futuro. Definitivamente entraria no meu Top 10 melhores de 2011.

Nota 9.3

21 Jump Street (2012)

Direção: Phil Lord e Chris Miller
Roteiro: Michael Bacall e Jonah Hill baseado em seriado de Patrick Hasburgh e Stephen J. Cannell
País: EUA

Melhor comédia de 2012 até agora. Eu ri bastante do primeiro trailer. Depois eu vi vários comentários no Twitter a respeito, falando muito bem. Então vi uma outra cena nova e achei genial. Isso me fez ficar muito empolgado com o lançamento de 21 Jump Street e fico feliz em dizer que o filme não decepciona.

21 Jump Street originalmente é um seriado do final dos anos 80 que basicamente fez um teen idol de Johnny Depp. A trama bota dois policiais jovens e undercover num colégio americano em busca de dar fim a alguns crimes. No caso do filme de 2012, o chefe (Ice Cube) quer saber quem é o fornecedor da droga do momento. E o traficante descolado é ninguém menos que Dave Franco (namorado de Brie Larson no filme, nada mal).


A primeira coisa que você precisa saber sobre esse remake é que o filme é totalmente retardado. E ele sabe disso. E isso é ótimo. Em mais de uma vez, quando acontece algo que só funcionaria em Hollywood e alguém tenta dar sentido somente pra ser ignorado, conclui-se que, como dizem os personagens, "ninguém se importa." Nick Offerman (lendário Ron fucking Swanson) também ajuda nisso. Ele diz, quando menciona que 21 Jump Street é uma operação dos anos 80, que "o pessoal de hoje só pensa em reciclar material antigo e ficam esperando que ninguém note." Como eu nunca vi o seriado, comigo funcionou.

Os dois protagonistas estão muito bem. Jonah Hill segue fazendo o seu melhor (comédias idiotas e hilárias) mas a surpresa está em Channing Tatum. Quando você olha pra ele, e bota um contexto de high school americano, é gritante que ele faz parte do grupo dos jogadores de futebol americano e é super popular. Mas não é bem isso que acontece no filme. Ele ficou ótimo como policial disfarçado de estudante.

21 Jump Street também tem várias subversões dos clichês de filmes de ação e de high school. Destaque pras novas tribos sociais que Jonah e Channing não conseguem identificar e pro caminhão de galinhas. A melhor cena do filme (quando os protagonistas usam a tal droga) dura vários minutos e eu ri durante cada segundo dela. Parece exagero mas eu quase passei mal rindo (não ria tanto desde Horrible Bosses). E também posso citar umas cinco piadas que são simplesmente GENIAIS.

Definitivamente uma daquelas comédias pra ver mais de uma vez, pra lembrar de algumas ótimas risadas perdidas.

Nota 9

Indie Game: The Movie (2011)



Direção: Lisanne Pajot e James Swirsky
País: Canadá

Qual é a sua paixão? Ou o que você quer fazer quando crescer? Para Phil Fish (da recente Polytron Corporation), Edmund McMillen e Tommy Refenes (Team Meat), a resposta dessas perguntas sempre foi bem clara: video-games. Phil, com quatro anos, ganhou um NES de Natal e percebeu que ele queria viver disso. Como se vive de video-games? Enquanto se é criança, não se tem noção disso, mas depois percebe-se que é possível aprender e criar jogos então ele foi direto nesse caminho. Com o Team Meat foi similar.


Há alguns anos atrás, o mercado era complicado para desenvolvedores independentes de games. Basicamente o único jeito de se vender um jogo novo era botar cópias físicas do seu jogo à venda em lojas como Best Buy e Wal-Mart. Como o contrato é muito severo e se gastava muito mais dinheiro com isso antigamente, games independentes existiam mas pouca gente sabia. Seus criadores se limitavam a jogos de flash e botá-los no Kongregate por exemplo. Então faziam seus próprios blogs com ambições e futuros projetos na esperança de que alguém fosse descobrir e gostar. 

No começo dos anos 2000, a Valve (companhia de games criadora de obras-primas como Portal e Half-Life) criou a Steam, um software de distribuição digital de games. O que isso quer dizer? Quer dizer que eles faziam contratos com empresas grandes e elas deixavam a Steam botar seus jogos à venda nela. Basicamente: uma loja de video games online. Você não precisa sair de casa e ir na loja ver quais são os lançamentos. Abra a Steam que tem tudo na primeira página. Com poucos passos e um cartão de crédito, você compra um jogo por lá e ele fica liberado para você baixá-lo legalmente. Isso facilitou o mercado dos desenvolvedores independentes, não só porque o contrato era muito mais justo com eles, como também eles sentiam que estariam trabalhando com gamers, como eles.

Em 2008, foi lançado Braid. A princípio, é um side-scroller normal (jogo onde o personagem começa na esquerda da tela e avança a fase indo para a direita). O protagonista parece o Mário, você precisa salvar a princesa, você pula na cabeça dos monstros para matá-los... Mas pelo vídeo, nota-se que não é só isso. Braid não só é um espetáculo para ser visto e escutado, ele te dá a ideia de que você não precisa de vidas extras ou pontos pra ganhar. Simplesmente voltar no tempo. Por quanto tempo você quiser. Por esse conjunto, o jogo, que estava (como sempre) em desenvolvimentos por anos e anos, quando foi lançado, recebeu centenas de críticas positivas. Ganhou prêmios e legiões de fãs. O mesmo aconteceu com Limbo. Em 2010, Limbo fez um sucesso extremo. Novamente, outro side-scroller. Mas são claras as características que fazem Limbo único. Isso motiva quem quer criar games.

Por que essa fascinação com jogos "retrô"? Como todos dizem em Indie Game, para desenvolvedores independentes, criar um game é acima de tudo expressar a si mesmo. Super Meat Boy (vendeu mais de meio milhão de cópias, quando, para um indie game, 25 mil significa sucesso e lucro) é dito como um jogo extremamente (talvez desnecessariamente) difícil. Edmund explica que antigamente os jogos eram muito mais difíceis. Hoje você dá um passo e aparece uma mensagem enorme "aperte X para pular." Por serem independentes, os criadores tem liberdade total nos jogos e trabalham tanto neles que chega a ser longe de ser saudável. No filme isso fica bem claro.


Fica bem claro que, por quatro, cinco anos, a vida deles é somente trabalhar no jogo. Fica claro o esforço deles. A paixão. Num festival de video game ano passado, a demo de Fez ficou disponível. Era a primeira vez que o jogo ficava público desde a... primeira vez que ele tinha sido mostrado, anos atrás. E logo no começo, quando um curioso pega o controle do Xbox pra testar o demo, o jogo trava. E depois trava em outra parte. E de novo. Com tanto esforço e cuidado, como isso é possível? Dá pra ver claramente que é esse também o pensamento de Phil. "Cada vez que o jogo falhava, eu sentia como se fosse um enorme fracasso pessoal." Mas é assim que eles aprendem. 

Uma parte que achei muito interessante de Indie Game é uma entrevista com Jonathan Blow, o criador de Braid. Lançar o seu jogo é como polir uma mensagem por muitos anos e finalmente entregá-la. Perfeita e ideal, da forma como você queria que ela fosse entregue. O problema (da comunicação, inclusive) é se ela vai ser entendida pelos outros. Sim, Braid recebeu críticas ótimas e prêmios, mas quando foi lançado, o criador ficava na internet lendo (e respondendo) opiniões que falhavam em ver o que ele via. O jogo não é só isso vocês estão dizendo. Tem muito mais. Não é só isso.


O principal destaque de Indie Game é ver o progresso do tempo. A data de lançamento (ou do trailer ou do demo ou de alguma coisa) se aproxima e os criadores precisam pegar essa chance porque, se não, vão ter que explicar para os (poucos) fãs que o jogo vai demorar mais meio ano. Phil (Fez) é daqueles que se preocupa se as pessoas vão gostar do jogo. "Queria não me importar com isso, mas me importo." Tommy (SMB) já é mais desapegado. Ele só quer lançar o jogo. Eles precisam lançar o jogo. Não importa se vender muito, ou se só receber críticas negativas. O importante é que ele terminou o projeto dos seus sonhos.

Se você tem o mínimo interesse em video game ou quer ver gente apaixonada pelo que faz trabalhar, veja esse documentário. E segure as lágrimas.

Nota 9.4

PS.: Fez foi lançado depois desse filme e o resto é história.

The Cabin in the Woods (2011)



Direção: Drew Goddard
Roteiro: Joss Whedon e Drew Goddard
País: EUA

Genial!

Antes de mais nada, é preciso dizer que é muito difícil comentar esse filme e as ideias que ele mostra sem estragar esse post e enchê-lo de spoilers. Mas vou tentar.


Pelo trailer de The Cabin in the Woods, não se espera nada demais. Espera-se clichês de filmes de terror. Grupo de jovens, fim de semana, casa na floresta, merda acontece e, bem, muita gente morre. Pelo cartaz, espera-se Cubo. O que se recebe é um prato cheio para fãs do cinema de horror. Logo no começo, com diversas e pequenas dicas, já se percebe que a premissa do trailer é uma fachada e que tem algo muito sério acontecendo. O roteiro é escrito de tal forma que te deixa sempre curioso, pois nunca revela muito de uma vez só. Certos aspectos da comédia você simplesmente aproveita, mesmo não entendendo muito bem o que está acontecendo.

Assim como em The Avengers te faz, em inúmeras cenas, pensar "ISSO! Está tudo tão... CERTO! É assim que um filme nerd de super-heróis deveria ser!", The Cabin in the Woods te faz pensar o mesmo sobre filmes de terror. Porém não é algo que vai poder ser repetido, porque agora a ideia já foi usada e quem resolver imitar, vai ser uma cópia descarada. Então fica aqui meu obrigado a Joss Whedon e Drew Goddard por um roteiro fantástico.

Nota 9

Adendo: Eu honestamente gostei mais desse filme do que The Avengers, mas por um simples e injusto motivo. Não estava esperando nada sobre The Cabin in the Woods (inclusive nem queria de fato ver, só fui por Joss Whedon e pelas várias críticas positivas). E The Avengers, já tinha um hype desgraçado. Nota igual pra não ter injustiça.

The Avengers (2012)

Direção: Joss Whedon
Roteiro: Joss Whedon e Zak Penn baseado em quadrinhos de Stan Lee e Jack Kirby
País: EUA

Se você não conhece Joss Whedon, você não manja de nerdice.

Brincadeira. Não tenho muito o que falar sobre o filme. Todo mundo já sabe a história, viu o filme e leu reviews. E, de fato, The Avengers não decepciona nem um pouco. É como falam. Paraíso nerd. Ver os Vingadores destruindo aliens (e Manhattan) foi lindo demais. Como eu já vi a internet pirar com mais de 8000 cenas excelentes, resolvi fazer então um Top 5 Cenas Favoritas. Sem ordem alguma.


1 - "His first name is Agent."

Tony Stark + Pepper Potts. Agent Phil aparece no apartamento, Pepper é simpática e chama Phil pelo primeiro nome. Tony retruca.

2 - "It's some kind of... electricity."

Homem de Ferro pede ajuda pro Capitão América em relação a uns eletrônicos. O Capitão, bem, não manja muito sobre isso. Quando ele chega no seu destino, é isso que ele fala.

3 - "Hulk... SMASH!"

Capitão América dando ordens para todos Vingadores, como um líder natural, como deve ser. Quando chega a vez do verdão, ele só fala isso.

4 - Hulk tentando levantar o Mjolnir e não conseguindo.

Quão foda é Thor?!

5 - Hulk DESTRUINDO Loki.



Menções honrosas:

6 - Hulk dando uma porrada no Thor SEM MOTIVO ALGUM depois de um combate em equipe.

Bromance no seu melhor.

7 - Hulk cai do céu, fica inconsciente e vira Bruce Banner. Um velho olhou tudo.

Velho: Are you an alien? Like from outer space.
Bruce: No.
Velho: Well, then, son... You've got a condition.

8 - Thor + Mjolnir batendo contra o escudo do Capitão América na floresta.

Porque né.



Adendo #1: Eu não vi o filme do Capitão América, mas deu pra entender tudo sem problemas. Obrigado, Joss Whedon.

Adendo #2: Adorei Mark Ruffalo como Hulk e Jeremy Renner como Hawkeye.


Nota 9