Mostrando postagens com marcador top 10 2013. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador top 10 2013. Mostrar todas as postagens

Before Midnight (2013)

Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater, Julie Delpy e Ethan Hawke
País: EUA

"É tipo... Essa é realmente a minha vida? Isso está acontecendo agora? (...) A cada ano, eu pareço me sentir cada vez menor e mais enterrado pelas coisas que nunca vou saber ou entender."

Acredito que todos nós compartilhamos sentimentos confrontantes quando Before Midnight foi anunciado. Claro que uma terceira parte para essa série de filmes do Linklater parece uma boa aposta, mas ainda não acabaram as ideias deles, não? Não estão fazendo mais um filme só pelo dinheiro? Digo o seguinte: se quiserem lançar um quarto, não importa o quão velhos estejam Ethan Hawke e Julie Delpy, eu topo. 

Agora em Before Midnight, de novo, nove anos depois do filme anterior, temos um vislumbre da vida romântica e adulta do nosso casal favorito, Jesse e Celine. O filme é mais maduro. O casal tem filhos e mora em Paris. Não são só conversas sobre amor e romance (apesar delas ainda serem a essência do filme); agora conversam sobre paternidade e, claro, é o que se espera de um casal junto há bastante tempo, bastante brigas. Bem, não bastante. 40% do filme eu diria que são brigas do casal. Não estou reclamando. É curioso e "engraçado" como os personagens mostram quem "realmente são" na raiva e calor de uma discussão. 

O impressionante é como essas três mentes criativas (Linklater, Hawke e Delpy) ainda conseguem criar diálogos maravilhosos que discutem aspectos tão importantes e emocionantes da existência humana em geral, em que a maioria de nós se identifica num nível extremamente profundo. Outro ponto fundamental desse filme (e da trilogia) é como Jesse e Celine sempre tem opiniões diferentes sobre certos assuntos, mas isso nunca gera discussão; é apenas a interpretação de cada personagem. Aqui vai um exemplo nesse filme que mostra isso perfeitamente:

"Um dia eu lembro de ver as gêmeas num trampolim e elas estavam tão bonitas e eu estava tão feliz porque elas estavam felizes. Uma delas estava com um bambolê mas aí a outra queria também e começaram a brigar. Então de repente eu simplesmente consegui ver tudo; todo esse ciúmes mesquinho e egoísmo. E lembro de pensar 'OK, esse é o estado natural humano.' Nunca satisfeito, sempre discontente."
"Se é isso que você pensa enquanto vê as gêmeas brincar, isso significa que você está deprimido. Quando eu as vejo brigar, eu vejo essa energia linda e elas indo pra frente na vida, nunca deixando ninguém humilhá-las ou tirar delas aquilo que querem. Eu gosto de vê-las brigarem, me dá esperança."

E é isso. As coisas não passam disso. Diferença de opiniões. Interpretações múltiplas. Tudo é tão relativo. O que mais falar sobre Before Midnight? Vá ver, se você não se importa com um romance que vai fazer você pensar um pouco.

Notat 9

Azul é a Cor Mais Quente (2013)

Título Original: La Vie d'Adèle
Direção: Abdellatif Kechiche
Roteiro: Abdellatif Kechiche e Ghalia Lacroix baseado em HQ de Julie Maroh
País: França / Espanha / Bélgica


Em uma cena perto do final, Adele e Emma estão em um bar. Adele com vinho branco e Emma, agora, com café. Entre as duas, a saudade. Adele começa a beijar a mão da, agora, loira Emma. "Sinto falta de tocar em você." Adele pega a outra mão de Emma e a força à sua virilha e o que parecia um ato doce e afetuoso agora vira carnal e sexual. É uma atração animal. "É mais forte do que eu." É como se Emma tivesse um gosto essencial, totalmente único, que incompleta Adele. E é nessa cena que fica mais claro do que nunca que A Vida de Adele é uma vida de, acima de tudo, desejo.

A Vida de Adele, apesar de Azul é a Cor Mais Quente ser um titulo apropriado (mas nem tanto) e curioso, é em suma a definição do filme. Emma, o azul, o tempero de Adele, é apenas algo que aconteceu enquanto ela transcendia de adolescente para jovem adulta, mas que deixou uma marca profunda e definitiva na sexualidade da nossa linda protagonista.

Na maioria das vezes, o filme lida com a realidade gay de forma remota, mas concisa. Quando confrontada pelas colegas ("quem era aquela mulher de cabelo azul?"), Adele sofre uma exclusão social e, junto com outras pequenas cena onde Emma é convidada num jantar na casa de Adele, são as únicas cenas onde lidamos com aspectos normalmente marcantes ou dramático da vida de um adolescente gay. Foi estranho o filme ter tocado tão pouco nesses tópicos (ser visto socialmente pela primeira vez como gay e "sair do armário" para os pais).

No filme Frances Ha, a protagonista sonha com um momento onde "vocês estão numa festa falando com outras pessoas, mas vocês trocam olhares e naquele momento você percebe que aquela é a tua pessoa nessa vida." Em uma festa com os amigos de Emma, onde Adele preparou tudo, é este o clima que temos. A felicidade no relacionamento e a aceitação social vem com tudo à Adele quando todos a aplaudem pela comida e ela agradece, tão cansada e quase chorando, em uma das sem dúvidas, cenas mais emocionantes do filme. 

Mas é afinal sobre Emma, o azul, que gira a vida de Adele. As várias (e longas) cenas de sexo mostram perfeitamente a atração entre as duas. E o relacionemento que nasce vira romântico e ideal.

Kechiche usa constantemente primeiros planos onde, mesmo em cenas de conversas ou onde Adele gesticula bastante com os braços, o rosto de Adele é o principal e único foco. Adele faz um ótimo trabalho em... simplesmente ser Adele no dia-a-dia. Entediada ou vazia; esperando ou com saudade.

Enfim, o filme prova ser um drama romântico realista e não um conto de fadas. Um dos melhores do ano.

Nota 9