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Last Train Home (2009)

Direção: Lixin Fan
País: China / Canadá / UK

Pra qualquer um que não mora na Ásia, Last Train Home é um documentário de choque cultural. Uma cultura onde um adolescente de 17 anos decide por si mesmo abandonar o colégio e ir trabalhar, para ajudar a família e a si mesmo.

Durante o ano novo chinês, milhões de chineses que moram nas fábricas onde trabalham voltam para casa, pela única vez no ano, visitar suas famílias. São 130 milhões de pessoas e essa é a maior migração humana no mundo. Nesse documentário, acompanhamos apenas uma família. Os pais moram juntos e trabalham numa fábrica de roupas, enquanto na sua casa, no interior, seus filhos e uma avó cuida da casa e sobrevive. Uma adolescente mulher (menina do cartaz), um menino criança que está no colégio e uma avó de 60 anos. Esses três fazem todo o trabalho pra cuidar do sítio, como colher comida, lavar roupas, alimentar as galinhas, etc.

O processo de migração é brutal. 130 milhões, ou seja, é difícil comprar passagem. Se não conseguir, vai ter que esperar mais um ano pra ver a família. É tanta gente que é impossível não se perder, caso não esteja sozinho. Vemos filhos que conseguiram passar de uma grade, mas cujos pais ficaram pra trás. Vemos pessoas carregando malas e sacos enormes, chorando tamanho o estresse que esse processo causa, e não fazem nada a não ser andar pra frente, em direção ao próximo trem pra casa.

Em sua cena mais dramática, no segundo ano novo do filme (quando a filha já tinha decidido parar com os estudos pra trabalhar), a família discute e a filha diz coisas ofensivas, o que faz o pai bater nela e começam uma briga. Com a filha no chão chorando, a mãe, do lado, na mesma hora toma o lado do marido, dizendo "como tu ousas desrespeitar o teu pai, que trabalha todo o dia pra trazer dinheiro pra essa família?"

Nota 7.5

(Depois atualizo o post com o grid)

Man on Wire (2008)

Direção: James Marsh
Roteiro: Philippe Petit
País: UK / EUA

Documentário muito emocionante sobre um equilibrista que fez a façanha de ficar equilibrado (andando e brincando) entre as duas Torres Gêmeas por mais de quarenta e cinco minutos.

A paixão (e o sonho) de Philippe Petit por equilibrismo surgiu quando ele era criança. Um dia, ele foi ao dentista e, na sala de espera, viu uma revista onde falavam sobre a construção do World Trade Center, que não havia ainda sido iniciada. A matéria mostrava uma imagem do projeto. Ele rasgou a página da revista e foi embora. "Fiquei com dor de dente por uma semana, admito, mas o que era essa dor comparado com o sonho que eu tinha recém descoberto?", diz.

O primeiro feito marcante de Philippe como equilibrista foi andar entre duas pequenas torres da catedral de Notre Dame. 69 metros de altura. Eis uma foto do evento. A segunda vez foi na Austrália, na ponte do porto de Sydney. 134 metros. Foto. E, bem, o WTC tinha 417 metros de altura. Então ele, sua namorada e mais vários amigos e contatos passaram meses planejando como fariam isso. Afinal, o objetivo deles era ilegal e eles precisavam agir às escuras. Meio que literalmente pois ficaram a madrugada inteira no telhado das torres arrumando os cabos e preparativos. Na prática, foram apenas quatro pessoas para realizar o ato. Ele e outro amigo em uma torre, e mais dois na outra. Um deles era americano e não sabia falar francês. O resto do pessoal ficou lá em baixo esperando.

O mais impressionante sobre Philippe e todos os envolvidos é a dedicação e confiança que tinham na habilidade do equilibrista. Claro, ele não era o melhor do mundo, não era impossível dele cair. Mas quando ele estava no cabo, ele se sentia livre. Feliz. No seu lugar. Tanto que brincava lá de cima, em todas as situações, deitando no cabo, fazendo malabarismo com objetos, ajoelhava... Na primeira vez que Philippe viu as Torres Gêmeas, ele percebeu que era impossível. Ele, e todo mundo, ficou perplexo pela magnitude daquilo que queriam alcançar. Convenhamos, pensa bem. Um equilibrista entre as Torres Gêmeas? Quem se submeteria a isso? Por quê? Parece realmente impossível. Philippe nem mesmo tinha confiança em si mesmo, afinal, qualquer coisa pode acontecer lá. Ele pode dar um passo e cair e morrer. "Que morte linda seria". Muitas vezes os realizadores do feito concluíam isso, mas eles não iriam parar agora, iam?


É meio difícil descrever as emoções que Man on Wire passa. "Você tinha que estar lá." A namorada de Philippe diz que chorou quando viu ele, lá de baixo das Torres, num cabo finíssimo. Só imagino o sentimento dos amigos que estavam nos topos das torres, ali perto. Uma das imagens mais poderosas do documentário, e a namorada dele descreve, foi quando, lá no cabo, ele fez aqui que está mostrado na penúltima imagem do grid abaixo. Quando já estava seguro que sabia que estava fazendo, que não ia cair, quando já estava brincando no cabo, ele saúda a câmera. Como se fosse um ator no fim de uma peça de teatro, como se dissesse "eu estou aqui, apreciem-me." Pode não ser do seu jeito mais normal, mas isso é arte. Como não apreciar? Como descrever uma pessoa assim que simplesmente vai direto em direção ao seu sonho e o realiza dessa forma? 

Quando a polícia finalmente põe suas mãos em Philippe, e logo depois os repórteres, a mídia e, bem, todo mundo, a pergunta mais comum que lhe faziam era "Por quê? Por que você fez isso?" mas o equilibrista sabia que essa pergunta não tinha resposta. Ele apenas fez. Viu aquelas torres naquela revista quando criança e decidiu que iria fazer isso. E eu o aplaudo por isso.

Nota 9.5


Indie Game: The Movie (2011)



Direção: Lisanne Pajot e James Swirsky
País: Canadá

Qual é a sua paixão? Ou o que você quer fazer quando crescer? Para Phil Fish (da recente Polytron Corporation), Edmund McMillen e Tommy Refenes (Team Meat), a resposta dessas perguntas sempre foi bem clara: video-games. Phil, com quatro anos, ganhou um NES de Natal e percebeu que ele queria viver disso. Como se vive de video-games? Enquanto se é criança, não se tem noção disso, mas depois percebe-se que é possível aprender e criar jogos então ele foi direto nesse caminho. Com o Team Meat foi similar.


Há alguns anos atrás, o mercado era complicado para desenvolvedores independentes de games. Basicamente o único jeito de se vender um jogo novo era botar cópias físicas do seu jogo à venda em lojas como Best Buy e Wal-Mart. Como o contrato é muito severo e se gastava muito mais dinheiro com isso antigamente, games independentes existiam mas pouca gente sabia. Seus criadores se limitavam a jogos de flash e botá-los no Kongregate por exemplo. Então faziam seus próprios blogs com ambições e futuros projetos na esperança de que alguém fosse descobrir e gostar. 

No começo dos anos 2000, a Valve (companhia de games criadora de obras-primas como Portal e Half-Life) criou a Steam, um software de distribuição digital de games. O que isso quer dizer? Quer dizer que eles faziam contratos com empresas grandes e elas deixavam a Steam botar seus jogos à venda nela. Basicamente: uma loja de video games online. Você não precisa sair de casa e ir na loja ver quais são os lançamentos. Abra a Steam que tem tudo na primeira página. Com poucos passos e um cartão de crédito, você compra um jogo por lá e ele fica liberado para você baixá-lo legalmente. Isso facilitou o mercado dos desenvolvedores independentes, não só porque o contrato era muito mais justo com eles, como também eles sentiam que estariam trabalhando com gamers, como eles.

Em 2008, foi lançado Braid. A princípio, é um side-scroller normal (jogo onde o personagem começa na esquerda da tela e avança a fase indo para a direita). O protagonista parece o Mário, você precisa salvar a princesa, você pula na cabeça dos monstros para matá-los... Mas pelo vídeo, nota-se que não é só isso. Braid não só é um espetáculo para ser visto e escutado, ele te dá a ideia de que você não precisa de vidas extras ou pontos pra ganhar. Simplesmente voltar no tempo. Por quanto tempo você quiser. Por esse conjunto, o jogo, que estava (como sempre) em desenvolvimentos por anos e anos, quando foi lançado, recebeu centenas de críticas positivas. Ganhou prêmios e legiões de fãs. O mesmo aconteceu com Limbo. Em 2010, Limbo fez um sucesso extremo. Novamente, outro side-scroller. Mas são claras as características que fazem Limbo único. Isso motiva quem quer criar games.

Por que essa fascinação com jogos "retrô"? Como todos dizem em Indie Game, para desenvolvedores independentes, criar um game é acima de tudo expressar a si mesmo. Super Meat Boy (vendeu mais de meio milhão de cópias, quando, para um indie game, 25 mil significa sucesso e lucro) é dito como um jogo extremamente (talvez desnecessariamente) difícil. Edmund explica que antigamente os jogos eram muito mais difíceis. Hoje você dá um passo e aparece uma mensagem enorme "aperte X para pular." Por serem independentes, os criadores tem liberdade total nos jogos e trabalham tanto neles que chega a ser longe de ser saudável. No filme isso fica bem claro.


Fica bem claro que, por quatro, cinco anos, a vida deles é somente trabalhar no jogo. Fica claro o esforço deles. A paixão. Num festival de video game ano passado, a demo de Fez ficou disponível. Era a primeira vez que o jogo ficava público desde a... primeira vez que ele tinha sido mostrado, anos atrás. E logo no começo, quando um curioso pega o controle do Xbox pra testar o demo, o jogo trava. E depois trava em outra parte. E de novo. Com tanto esforço e cuidado, como isso é possível? Dá pra ver claramente que é esse também o pensamento de Phil. "Cada vez que o jogo falhava, eu sentia como se fosse um enorme fracasso pessoal." Mas é assim que eles aprendem. 

Uma parte que achei muito interessante de Indie Game é uma entrevista com Jonathan Blow, o criador de Braid. Lançar o seu jogo é como polir uma mensagem por muitos anos e finalmente entregá-la. Perfeita e ideal, da forma como você queria que ela fosse entregue. O problema (da comunicação, inclusive) é se ela vai ser entendida pelos outros. Sim, Braid recebeu críticas ótimas e prêmios, mas quando foi lançado, o criador ficava na internet lendo (e respondendo) opiniões que falhavam em ver o que ele via. O jogo não é só isso vocês estão dizendo. Tem muito mais. Não é só isso.


O principal destaque de Indie Game é ver o progresso do tempo. A data de lançamento (ou do trailer ou do demo ou de alguma coisa) se aproxima e os criadores precisam pegar essa chance porque, se não, vão ter que explicar para os (poucos) fãs que o jogo vai demorar mais meio ano. Phil (Fez) é daqueles que se preocupa se as pessoas vão gostar do jogo. "Queria não me importar com isso, mas me importo." Tommy (SMB) já é mais desapegado. Ele só quer lançar o jogo. Eles precisam lançar o jogo. Não importa se vender muito, ou se só receber críticas negativas. O importante é que ele terminou o projeto dos seus sonhos.

Se você tem o mínimo interesse em video game ou quer ver gente apaixonada pelo que faz trabalhar, veja esse documentário. E segure as lágrimas.

Nota 9.4

PS.: Fez foi lançado depois desse filme e o resto é história.

Cave of Forgotten Dreams (2010)

IMDb: Cave of Forgotten Dreams
Direção: Werner Herzog
Roteiro: Werner Herzog
País: França Alemanha EUA Canadá UK

Sensacional.

Werner Herzog já se provou (pelo menos pra mim) ser um diretor genial que, ultimamente, tem feito documentários muito interessantes. Vide Encounters at The End of The World. E nesse longa mais recente ele também resolve inovar: um documentário em 3D. Sim, estranho, não faz muito sentido. Só pra entrar na modinha? Talvez. Mas o 3D de Cave funciona, e muito bem. Logo na primeira cena a gente já percebe que Herzog leva essa tecnologia a sério. E a partir daí, dentro da caverna, só melhora.


Mas o que é a caverna dos sonhos esquecidos, afinal? É uma caverna na França que por MUITOS anos ficou escondida por uma pedra gigante. Ninguém nunca soube que existia uma caverna ali. Então, com o passar do tempo, a pedra se moveu e lá dentro encontraram-se centenas de desenhos pré-históricos. Adicione isso a algumas excelentes frases de efeito de Herzog sobre a existência do homem e ao excelente uso do 3D e temos um documentário marcante.

Nota 9.5

PS: Recomendo extremamente que vejam o filme em 3D. Se não tiverem a oportunidade, 2D.

Armadillo (2010)

IMDb: Armadillo
Direção: Janus Metz Pedersen
Roteiro: Kasper Torsting
País: Dinamarca

Não tenho muito o que falar desse documentário. Ele conta a história de um esquadrão dinamarquês que foi pra Guerra do Afeganistão. É tudo bem realista. Ou seja, a maior parte do tempo é os caras esperando e não fazendo nada e tem um pouco de guerra de verdade.

Para fãs de guerra.

Nota 7.5

A Ponte (2006)

Título Original: The Bridge
Direção: Eric Steel
Roteiro: Eric Steel
País: EUA

Documentário sobre suicídio e a Golden Gate Bridge, que, até 2006, era onde mais pessoas se matavam por ano.

O filme cata relatos de famílias que já perderam um membro por causa disso. Um dos casos é de um guri que se jogou da ponte e não morreu. Outro é de um fotógrafo que estava pela ponte tirando fotos e notou uma mulher indo pra parte do lado da ponte, onde, bem, normalmente se veria técnicos arrumando algo or something. Na verdade, não é o lugar mais perigoso do mundo, dá pra ficar sentado até na parte do lado, dá pra ver bem isso no documentário. Mas se você vê uma pessoa normal ali, pode ter certeza que ela pretende pular. Ou está com muita vontade. Enfim, o fotógrafo viu a mulher ali e ficou tirando fotos dela. Ela contemplando e ele fotografando. Até que, enfim, ele percebeu o que estava acontecendo e foi impedir a mulher de pular.

Logo no começo de A Ponte, conversamos com uma mulher que presenciou um suicídio desses. Aí ela ficou com a dúvida na cabeça "será que isso acontece com muita frequência?" e foi perguntar pra um guarda marinho. "It happens all the time." Tanto que Eric Steel, o diretor, deixou a câmera gravando por dias sem parar. Capturou 23 suicídios.

Não sei se preciso dizer, mas esse foi um documentário polêmico. I mean, filmar ao invés de ajudar as pessoas? Esse, por exemplo, é um dos casos do filme (convenhamos, um jeito bem badass de pular). E, sim, essa é a foto de um suicídio real. É curioso que, em várias cenas onde tem pessoas andando nessa parte do lado da ponte que já mencionei, as outras pessoas seguem com seus dias normalmente caminhando pela calçada. "Hm, por que aquele cara está ali? Enfim, tenho outras coisas pra me preocupar." Tenho uma amiga que já presenciou alguém pulando de um prédio (em São Paulo) e, porra.. Assim como ela, eu não conseguiria não dar bola. E se o estranho conseguisse de fato se matar, eu ficaria profundamente perturbado.


Uma coisa que eu achei interessante, though, e por certo lado "positiva", é que muitos casos e famílias.. "suportaram" a decisão do suicida. Se alguém diz que quer se matar, todo mundo que gosta dele vai fazer de tudo pra que fulano não morra. Mas muita gente percebe que, para essas pessoas, viver é.. Bem, uma merda. Não o "vida de merda" que você pensa quando falta luz durante aquele trabalho que você tava fazendo ou quando fulana diz que só quer ser sua amiga. Dava pra notar, pelos relatos dos familiares, que nada fazia valer a pena, pros caras que se mataram. Então alguns sentiram certo alívio quando ficaram sabendo que tal pessoa se matou. "Ele foi pra um lugar melhor." É o que tem que se pensar nessas horas.


Me decepcionei um pouco com o filme pois esperava mais suicídio e menos ponte, if you know what I mean. Poderia ser bem melhor.

Nota 7.8

Encounters at the End of the World (2007)

Título Original: Encounters at the End of the World
Direção: Werner Herzog
Roteiro: Werner Herzog
País: EUA

Pulei uns filmes porque preciso falar sobre esse. E, OK, esse vai ser um post grande.

Conheço pouquíssima coisa do Herzog, mas sempre gostei dele. Um dia então, enquanto via sua grande lista de filmes, notei que a maioria dos recentes são documentários e um amigo meu me recomendou esse tal encontros no fim do mundo. Documentário sobre a Antártica? Eu topo, afinal gelo, neve, frio e lugares assim sempre me agradaram - de ver em fotos e imagens, pelo menos.

Uma coisa que é preciso saber desde o começo é que os documentários do Herzog não são normais. Não é ele simplesmente falando sobre algo e mostrando como essa coisa é. Ele interpreta tudo. Ele dá as suas opiniões e assim você consegue ver o que é exposto da forma que ele quer. Por exemplo, em uma cena, ele está com um grupo de mergulho. E durante as preparações, ninguém falava nada. OK, nada demais. Mas então Herzog fala, em off, que os caras fazendo aquilo, algo que acontece quase todos os dias com eles, o lembrava de padres se arrumando antes de dar uma missa. E você pensa "realmente." E durante o documentário todo, ele faz esses eventuais comentários e é sempre algo.. interessante e, por certo lado, simbólico.


O filme começa na Estação McMurdo da Antártica, um centro de pesquisa americano do tamanho de uma pequena cidade, como vocês podem ver aqui. Lá, Herzog entrevista vários cientistas. E aí você já começa a notar detalhes interessantes. É o mais variado tipo de pessoas possível. Ninguém é simplesmente um cientista que quer trabalhar na Antártica. Filósofos, índios, gente que passou a vida inteira viajando sem nenhum plano maior. Aventureiros, idealistas, misantropos e gente de bem com a vida. Herzog logo então começa a "passear" pela "ilha", sempre com ajuda, claro, e nos mostra imagens lindíssimas e únicas. Encontros no Fim do Mundo nos exibe animais jamais vistos antes, lugares que a humanidade nunca foi. Mensagens e trilhas de exploradores de décadas atrás fizeram.

Vou falar um pouco agora sobre a minha cena favorita (que é muito triste e me fez chorar até) do filme e eu recomendo a leitura dela. Ela não tem relação com a "história" do filme, pode ser considerado spoiler mas não vai arruinar o filme para você. Se já consegui te vender o filme, não precisa ler esse parágrafo, veja o filme e venha aqui depois. Enfim, leia se quiser. A melhor cena de Encontros no Fim do Mundo, na minha opinião, é quando Herzog visita uma colônia de pinguins. O cara que supervisiona o local é bem quieto, já está mais acostumado a conviver com esses animais do que com humanos. Ele comenta que, na colônia, nesse exato momento, só tem machos. Eles estão com os ovos à espera das fêmeas do mar. O especialista diz que os pinguins dali, se me lembro bem, tem duas opções: ou cuidam dos ovos e esperam ou vão para o oceano por si sós. A maioria fica ali mesmo mas aí a câmera pega um grupo que está indo embora. São uns 5 ou 4 pinguins. Após se afastarem alguns metros da colônia, dois param e um resolve voltar. O outro então fica ali parado, indeciso. Ele parece tão triste, ali sozinho. Sem saber o que fazer. Então, assim do nada, ele começa a correr sem parar em direção das montanhas. Láááá longe. Muitos e muitos quilômetros de nada até lá e, mesmo depois delas, também, nada. Sozinho. É como se o pinguim tivesse visto a felicidade em forma física em cima das montanhas. É como se ele tivesse visto a Morte lá em cima mas não sabe o que acontece quando chega nela. Ele corre e corre e corre. Sozinho. Correndo até sua morte, diz Herzog. Mas... por quê? Por que ele vai pra lá, instintivamente sabendo que vai morrer? Por que só ele? O que o fez fazer isso? Ele simplesmente perdeu a esperança e resolveu fazer uma última aventura? Desistiu? Fugiu? Cansou? Não existem respostas para essas perguntas.

Para a minha surpresa (ou não), depois de ver o filme, fui na internet e vi que muitas pessoas também acharam essa cena a mais marcante do documentário. Inclusive li comentários bem interessantes. "Esse é o pinguim mais louco ou mais são de todos." "Senti-me triste e feliz ao mesmo tempo pelo pinguim, ele vai experimentar coisas antes de morrer que nenhum dos outros da colônia vai." Um dos comentários em particular me chamou atenção: "Eu achei muito triste mas ao mesmo tempo a cena mostra que, apesar de 'programados' a fazer certas coisas, como criar famílias, certos animais (humanos inclusos) simplesmente não foram feitos para 'se encaixar' e ser como os outros."


Eu fiquei desacostumado com essa cena. Já vi um filme (um drama muito bom, inclusive, emocionante e bonito) depois mas toda ficção agora parece tão falsa. Aquele pinguim realmente morreu lá. Era inclusive lei do lugar não interferir com os pinguins de nenhuma forma. Ele foi para as montanhas e não encontrou nada. Não tem como uma obra de ficção passar um sentimento assim. Pode ser a coisa mais triste do mundo, mas você sabe que é de mentirinha. Pois é, essa é a moral dos documentários. As coisas acontecem.

Sinceramente, sinto que qualquer nota 9 é pouco. Vou rever no fim de semana e então vejo se pode ser considerado impecável. Por enquanto..

Nota 9.9

Janela da Alma (2001)

Título Original: Janela da Alma
Direção: João Jardim e Walter Carvalho
Roteiro: João Jardim e Walter Carvalho
País: Brasil


Documentário brasileiro sobre a visão. Sim, sobre os olhos e enxergar.

Cegos, míopes, celebridades que já escreveram ou filmaram a respeito são entrevistadas em um pouco mais de uma hora de filme. Saramago, Win Wenders, entre outros.

Enfim, não tenho muito pra falar sobre o filme. Foi legal se identificar com pessoas relevantes, quando elas falam que gostam de usar óculos e tudo mais. Um documentário interessante.

Nota 8.3

Sicko - $o$ Saúde (2007)

Título Original: Sicko
Direção: Michael Moore
Roteiro: Michael Moore
País: EUA


Os EUA tem um péssimo sistema de saúde.


Nota 7.4

The 3 Rooms of Melancholia (2004)

Tìtulo Original: Melancholian 3 huonetta
Direção: Pirjo Honkasalo
Roteiro por: Pirjo Honkasalo
País: Suécia/Alemanha/Dinamarca/Finlândia


Documentário sobre a Guerra da Chechênia e repressão russa.

Bonito e frio. Europeu.

PS: Eurochannel reina.

49 Up (2005)

Título Original: 49 Up
Direção: Michael Apted
Roteiro por: Michael Apted
País: UK


Documentário feito para TV com uma proposta bem interessante.

Assim: desde os 7 anos de umas várias pessoas, Michael Apted filma e relata informações sobre a vida delas. 7 anos depois, ele volta e faz a mesma coisa. 7, 14, 21, 28, 35, 42, 49. Em todas essas idades, Michael Apted voltava a visitar as mesmas pessoas e elas falam como vai a sua vida. E são pessoas das mais diferentes classes sociais do UK. Um deles até os 28 anos é mendigo, então muda e entra na política. E por aí vai.

Bem interessante. Acho que mais realista que isso é impossível.

Uma Verdade Inconveniente (2006)

Tìtulo Original: An Inconvenient Truth
Direção: Davis Guggenheim
Roteiro por:
País: EUA


Ótimo. Relevante mesmo. Vale a pena.

The Corporation (2003)

Título Original: The Corporation
Direção: Jennifer Abbott e Mark Achbar
Roteiro por: Joel Bakan e Harold Crooks
País: Canadá


Muito bom! Afude mesmo.

A Marcha dos Pingüins (2005)

Título Original: La Marche de L'Empereur
Direção: Luc Jacquet
Roteiro por: Michel Fessler, baseado em roteiro de Luc Jacquet
País: EUA/França


Bonito, triste e azul.