Before Midnight (2013)

Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater, Julie Delpy e Ethan Hawke
País: EUA

"É tipo... Essa é realmente a minha vida? Isso está acontecendo agora? (...) A cada ano, eu pareço me sentir cada vez menor e mais enterrado pelas coisas que nunca vou saber ou entender."

Acredito que todos nós compartilhamos sentimentos confrontantes quando Before Midnight foi anunciado. Claro que uma terceira parte para essa série de filmes do Linklater parece uma boa aposta, mas ainda não acabaram as ideias deles, não? Não estão fazendo mais um filme só pelo dinheiro? Digo o seguinte: se quiserem lançar um quarto, não importa o quão velhos estejam Ethan Hawke e Julie Delpy, eu topo. 

Agora em Before Midnight, de novo, nove anos depois do filme anterior, temos um vislumbre da vida romântica e adulta do nosso casal favorito, Jesse e Celine. O filme é mais maduro. O casal tem filhos e mora em Paris. Não são só conversas sobre amor e romance (apesar delas ainda serem a essência do filme); agora conversam sobre paternidade e, claro, é o que se espera de um casal junto há bastante tempo, bastante brigas. Bem, não bastante. 40% do filme eu diria que são brigas do casal. Não estou reclamando. É curioso e "engraçado" como os personagens mostram quem "realmente são" na raiva e calor de uma discussão. 

O impressionante é como essas três mentes criativas (Linklater, Hawke e Delpy) ainda conseguem criar diálogos maravilhosos que discutem aspectos tão importantes e emocionantes da existência humana em geral, em que a maioria de nós se identifica num nível extremamente profundo. Outro ponto fundamental desse filme (e da trilogia) é como Jesse e Celine sempre tem opiniões diferentes sobre certos assuntos, mas isso nunca gera discussão; é apenas a interpretação de cada personagem. Aqui vai um exemplo nesse filme que mostra isso perfeitamente:

"Um dia eu lembro de ver as gêmeas num trampolim e elas estavam tão bonitas e eu estava tão feliz porque elas estavam felizes. Uma delas estava com um bambolê mas aí a outra queria também e começaram a brigar. Então de repente eu simplesmente consegui ver tudo; todo esse ciúmes mesquinho e egoísmo. E lembro de pensar 'OK, esse é o estado natural humano.' Nunca satisfeito, sempre discontente."
"Se é isso que você pensa enquanto vê as gêmeas brincar, isso significa que você está deprimido. Quando eu as vejo brigar, eu vejo essa energia linda e elas indo pra frente na vida, nunca deixando ninguém humilhá-las ou tirar delas aquilo que querem. Eu gosto de vê-las brigarem, me dá esperança."

E é isso. As coisas não passam disso. Diferença de opiniões. Interpretações múltiplas. Tudo é tão relativo. O que mais falar sobre Before Midnight? Vá ver, se você não se importa com um romance que vai fazer você pensar um pouco.

Notat 9

Frances Ha (2013)

Direção: Noah Baumbach
Roteiro: Noah Baumbach e Greta Gerwig
País: EUA

"Quero este momento especial. É o que quero em um relacionamento... E é o que pode explicar o porquê de eu estar solteira agora. (...) É aquela coisa de quando você está com alguém e você o ama e ele sabe disso e ele te ama e você sabe disso, mas vocês estão em uma festa e os dois falando com outras pessoas e você está rindo e feliz e você olha para outro lado da sala e cruza com o olhar do outro, mas não porque você é possessivo ou por ser sexual mas porque aquela é a sua pessoa nesta vida. E é engraçado e triste, mas só porque esta vida vai acabar, e é este mundo secreto que existe ali em público, sem ser notado, e que ninguém mais sabe. (...) Isso é o que quero em um relacionamento."

O filme que define a geração Girls. Mais ou menos.

Por que esse pessoal branco, artístico, liberal e de classe média sempre mentem pra quem amam falando que estão bem quando não estão? Meio que fazendo parte desse demográfico, eu me identifico com Frances Ha. Todo esse espectro de problemas: relacionamentos, roommates, amigos distantes, aluguel, falta de dinheiro, satisfação pessoal, conquistas profissionais e todo o resto.

Essencialmente, Frances Ha é uma comédia. Uma comédia completamente cheia de esperança, graças à Greta Gerwig, que faz Frances e também co-escreveu o filme junto com o famoso diretor hipster Noah Baumbach. Funciona tudo bem, pelo menos na primeira metade do filme. Durante um tempo, Frances discute com sua melhor amiga porque, é claro, elas estão virando aquilo que justamente fazem piadas sobre e desprezam (a amiga arranja um namorado rico e ignora Frances). A nossa então esperançosa e feliz protagonista fica subitamente sozinha e começa a tentar socializar e ser aceita por diferentes tipos de pessoas. Humor de vergonha alheia, sim, mas doloroso de ver. Felizmente o filme não foca muito no quanto "não sucedida" a Frances é comparado com, sabe, as pessoas normais que ela tenta conversar com. 

Uma cena em particular me chamou a atenção. Frances (e Greta) são de Sacramento mas moram em NYC (óbvio). Enquanto Frances está sem Sophie (a melhor amiga), a protagonista visista a sua cidade natal. Ela então tem alguns dias "normais" com a sua família "feliz." Então os dias acabam e ela está indo embora no aeroporto enquanto sua família a acompanha. O filme passa uma sensação de casa vazia, pois vemos Frances crescendo como pessoa e viajando, o que naturalmente acontecendo quando ela se formou e resolveu sair de Sacramento, mas não por instinto ou sobrevivência e sim por escolha. Ela escolheu se mudar para o Brooklyn e é claro que isso fez com que ela amaduresse e se tornasse mais independente e responsável, mas nessa cena quando ela está voltando pra NYC, ela não está particularmente feliz nem triste. Ela sabe que ela não mora mais com a melhor amiga, as coisas não são mais como antes, ela está sozinha agora, bem, não sozinha, ela mora com uns caras legais, mas esse sentimento de não pertencer existe, o mesmo sentimento que provavelmente fez com que ela saísse de Sacramento da primeira vez. Qual é o propósito disso tudo, afinal?

Frances Ha passa sentimentos muito bons (e ele também aparece muito atraente) mas no final você se sente vazio porque foi tudo tão superficial. Eu esperava, num filme que relata a sociedade atual de uma forma tão boa, um pouco mais de existencialismo. Ou talvez seja exatamente por isso que não teve nenhuma menção a respeito. 

Nota 7.5

Azul é a Cor Mais Quente (2013)

Título Original: La Vie d'Adèle
Direção: Abdellatif Kechiche
Roteiro: Abdellatif Kechiche e Ghalia Lacroix baseado em HQ de Julie Maroh
País: França / Espanha / Bélgica


Em uma cena perto do final, Adele e Emma estão em um bar. Adele com vinho branco e Emma, agora, com café. Entre as duas, a saudade. Adele começa a beijar a mão da, agora, loira Emma. "Sinto falta de tocar em você." Adele pega a outra mão de Emma e a força à sua virilha e o que parecia um ato doce e afetuoso agora vira carnal e sexual. É uma atração animal. "É mais forte do que eu." É como se Emma tivesse um gosto essencial, totalmente único, que incompleta Adele. E é nessa cena que fica mais claro do que nunca que A Vida de Adele é uma vida de, acima de tudo, desejo.

A Vida de Adele, apesar de Azul é a Cor Mais Quente ser um titulo apropriado (mas nem tanto) e curioso, é em suma a definição do filme. Emma, o azul, o tempero de Adele, é apenas algo que aconteceu enquanto ela transcendia de adolescente para jovem adulta, mas que deixou uma marca profunda e definitiva na sexualidade da nossa linda protagonista.

Na maioria das vezes, o filme lida com a realidade gay de forma remota, mas concisa. Quando confrontada pelas colegas ("quem era aquela mulher de cabelo azul?"), Adele sofre uma exclusão social e, junto com outras pequenas cena onde Emma é convidada num jantar na casa de Adele, são as únicas cenas onde lidamos com aspectos normalmente marcantes ou dramático da vida de um adolescente gay. Foi estranho o filme ter tocado tão pouco nesses tópicos (ser visto socialmente pela primeira vez como gay e "sair do armário" para os pais).

No filme Frances Ha, a protagonista sonha com um momento onde "vocês estão numa festa falando com outras pessoas, mas vocês trocam olhares e naquele momento você percebe que aquela é a tua pessoa nessa vida." Em uma festa com os amigos de Emma, onde Adele preparou tudo, é este o clima que temos. A felicidade no relacionamento e a aceitação social vem com tudo à Adele quando todos a aplaudem pela comida e ela agradece, tão cansada e quase chorando, em uma das sem dúvidas, cenas mais emocionantes do filme. 

Mas é afinal sobre Emma, o azul, que gira a vida de Adele. As várias (e longas) cenas de sexo mostram perfeitamente a atração entre as duas. E o relacionemento que nasce vira romântico e ideal.

Kechiche usa constantemente primeiros planos onde, mesmo em cenas de conversas ou onde Adele gesticula bastante com os braços, o rosto de Adele é o principal e único foco. Adele faz um ótimo trabalho em... simplesmente ser Adele no dia-a-dia. Entediada ou vazia; esperando ou com saudade.

Enfim, o filme prova ser um drama romântico realista e não um conto de fadas. Um dos melhores do ano.

Nota 9

Stoker (2013)

Direção: Park Chan-Wook
Roteiro: Wentworth Miller
País: UK / EUA

"Sabe quando vê uma foto sua que foi tirada quando não sabia que estavam tirando uma foto sua? De um ângulo que tu não consegue ver quando se olha no espelho? E você pensa 'Isso sou eu. Isso... também sou eu.' Sabe do que estou falando? É assim que me sinto agora."

Filme muito interessante sobre família, assassinato e sexualidade. Sempre fui um grande fã do Park Chan-Wook então estava muito empolgado com Stoker. Seu primeiro filme em Hollywood com atores famosos tipo Mia Wasikowska, Nicole Kidman e, um dos meus favoritos, Matthew Goode. Um elenco essencialmente bem escolhido, principalmente quando se fala do Goode; vejo poucos atores atuais com um olhar tão profundo e intimidador.

O filme é sobre uma família relativamente distante que, por descuidos do destino, costuma sofrer traumas e acidentes demais. Quando o marido da Kidman morre, o misterioso Goode (irmão ausente do marido) aparece para ajudar a esposa e sua sobrinha, Mia.

Stoker, com consistência, um filme perturbador. Crédito a Wentworth Miller (sim, o cara de Prison Break) e seu roteiro surpreendentemente bom. Chan-Wook, como sempre fez um excelente trabalho como diretor.

Mal posso esperar por seu próximo filme, seja o que for.

The Bling Ring (2013)

Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Sofia Coppola baseada em artigo da Vanity Fair (fatos reais)
País: EUA


O hype do novo filme da Sofia Coppola surgiu por dois motivos: baseado em fatos reais e Emma Watson. Infelizmente, The Bling Ring é exatamente o que você espera que seja. 

O filme segue um grupo de adolescentes mimados e entediados, da geração MTV, viciados em rede sociais e sua série de roubos às diversas casas de celebridades hollywoodianas. É claro que, eventualmente, eles ficam gananciosos e estúpidos demais (abuso de drogas) até serem pegos. 


O trabalho da Coppola como diretora foi, como sempre, bem feito e único; o que pode-se perceber por certos takes particularmente selecionados em slow motion e na trilha sonora obrigatoriamente "descolada e hipster" (mas muito boa, que inclui músicos como Kanye West, deadmau5 e, os favoritos da diretora, Phoenix). Os takes e a trilha em favor de mostrar o "elitismo" de pecados capitais como ganancia mas principalmente luxúria. 

Em geral, um bom filme, apesar de decepcionante.

Nota 6.5

Drinking Buddies (2013)

Direção: Joe Swanberg
Roteiro: Joe Swanberg
País: EUA

Literalmente um filme só sobre dois casais que bebem bastante. Obviamente, o cara do casal A começa a gostar da guria do casal B, etc.

É estranho que não tem tantas discussões e DR nesse filme. O que às vezes é algo bom, mas nesse caso é ruim, porque não é realista. Outra coisa é que, e não estou falando isso apenas porque Olivia Wilde e Anna Kendrick são bonitas, não tem sexo o suficiente. Fala sério, casais jovens e bonitos que não transam (tanto)? Drinking Buddies é mais sobre tensão sexual e expectativas decepcionantes do que sobre romance e drama.

E eu gosto do Ron Livingston, mas ele não combia nem um pouco com o resto do elenco.

Nota 5

Days of Heaven (1978)

Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
País: EUA

Segundo filme do mestre Terrence Malick. Tudo bem, é o segundo filme que vejo dele (o primeiro sendo a obra de arte Tree of Life), mas já é perfeitamente compreensível porque ele tem fãs tão fiéis (eu sendo um deles).

O filme fala sobre trabalho, ciúmes, luta de classes e, em geral, a fugacidade de tudo. A história gira em torno de uma tríade de personagens. Bill (Richard Gere), Abby e Linda. Eles fingem que são uma família mas na verdade Bill e Abby são namorados. Os três são classe baixa e trabalhadora e passam a vida viajando em busca de sobreviver e ganhar uns trocados. Um dia eles vão trabalhar numa fazenda enorme, colhendo trigo. O dono da fazenda (um homem com alguma doença que não tem muito tempo de vida) se interessa em Abby e eles precisam lidar com isso.

Days of Heaven, por se passar em uma fazenda no meio do Texas, é cheio de paisagens bonitas e vazias, como vocês podem ver no grid. Uma coisa que me chamou a atenção foi a sonoplastia. No começo temos muitas cenas industriais e mesmo na fazenda, durante a colheita, bastante barulhos de máquinas. Os personagens conversam pouco nessas cenas mas Malick deixou o volume das máquinas muito alto, por causa do realismo, e mal se escuta os personagens. Esse é apenas um dos detalhes interessantes do filme. 

As atuações não tem nada de especial. A trilha sonora é boa, assim como o roteiro de Malick. O melhor de Days of Heaven é, como esperado, a direção.

Nota 9


Spring Breakers (2012)

Direção: Harmony Korine
Roteiro: Harmony Korine
País: EUA

Um filme de Harmony Korine (diretor de obras como Gummo e Kids) estrelando as ex-princesinhas da Disney, Vanessa Hudgens e Selena Gomez, junto de James Franco. Sobre spring break. Todo mundo já sabia que esse seria um filme digno de atenção, mas pouca gente esperava um resultado tão interessante. 

Tudo começa no interior, onde a vida é chata. As férias estão chegando e, com elas, a Spring Break. Spring Break é um período nos EUA onde os estudantes vão pra praia (normalmente) para festejar. Leia-se drogas, bebida e sexo. O problema é que as nossas quatro protagonistas não tem dinheiro o suficiente para viajar. Três delas então decidem assaltar uma lancheria então uma noite para conseguir o dinheiro. Juventude, sabe como é. A vontade de fazer o que todo mundo está fazendo é maior do que tudo. Elas precisam ser como as outras e as outras foram pra Spring Break. Então é isso que vamos fazer, custe o que custar. "Faça de conta que é um videogame." 

Spring Breakers é acima de tudo um filme sobre a glamourização da violência, promiscuidade e crime, principalmente entre meninas adolescentes. Na primeira cena do filme já se percebe isso. Mostram-se apenas imagens típicas de uma Spring Break ao som da clássico hit de dubstep Scary Monster e Nice Sprites do Skrillex (que compôs grande parte da trilha sonora. junto com Cliff Martinez, de Drive). Quando chega o drop da música, é como se as imagens e comportamentos mostrado nas imagens fossem cuspidos na cara do espectador com uma agressividade absurda (a mesma da música). Nudez. Spring Break. Em outra cena particular onde também toca um hit clássico de Skrillex, a música se sobrepõe com declarações das protagonistas em ligações que elas fizeram pra casa relatando sua experiência na praia. A música tem a sua beleza, as imagens novamente são gente semi-nua se divertindo e o que as mocinhas estão falando te convence. É um lugar mágico. Todo mundo é tão legal, conhecemos tantas pessoas novas, estamos nos divertindo tanto, nunca quero voltar pra casa.

Só que, se você conhece Harmony Korine, você sabe que o filme dele não vai ser só o que parece ser uma propaganda da MTV. Quando o personagem de James Franco (um rapper, possivelmente o melhor papel e atuação da carreira dele; está simplesmente irreconhecível) é introduzido e ajuda as mocinhas a sair da cadeia, "por nenhum motivo aparente", o clima do filme muda. Por que homens mais velhos querem se ver cercados de mulheres mais novas, afinal? Mas na adolescência, somos todos tão ingênuos. Elas não vêem nada além de como Alien (o nome do personagem) é legal por ser traficante e rapper e ter muito dinheiro e armas e tatuagens e dentes prateados. Alien percebe a tendência à violência das meninas e começa a gostar muito mais delas.


Spring Breakers não é sobre um grupo de amigas que quer se divertir; é muito mais do que isso. É uma análise sobre uma geração vazia onde tudo é artificial (o filme é praticamente todo feito de cores neon, como dá pra ver pelo cartaz). É um relato sobre os extremos de perseguir o "sonho americano" (get rich or die trying), que vai do hedonismo do materialismo até o niilismo do "fazer por fazer."

Hipnotizante.

Nota 9


Edit: Finalmente agora posso ver porque tanta acha esse filme mais parecido com Hotline Miami do que Drive. É uma mistura dos dois, convenhamos.

Edit 2: Agora com grid!


Tyrannosaur (2011)

Direção: Paddy Considine
Roteiro: Paddy Considine
País: UK

"They all think it, but I do it. That's the difference between me, you and the rest of the world."

Tyrannosaur é um filme sobre violência. Por lado, temos Joseph, um alcóolatra viúvo com problemas de raiva e que briga o tempo inteiro. Por outro, temos Hannah, uma religiosa que sofre abusos constantes do marido. Um dia, tentando fugir dos próprios pensamentos, Joseph entra na pequena loja de Hannah e se esconde. Eles começam a conversar e aí surge uma relação entre os dois.

O nível de violência chega, em partes, a níveis brutais com, por exemplo, a morte de dois cachorros e um estupro. Isso me pegou de surpresa. De qualquer forma, é um bom filme. Destaque pra atuação dos dois atores que é sem dúvida a melhor parte de Tyrannosaur.

Nota 7

Upstream Color (2013)

Direção: Shane Carruth
Roteiro: Shane Carruth
País: EUA

"Matar Deus é a única forma de progredir."

Esse é o segundo filme do diretor Shane Carruth. A mesma mente que criou Primer, antes atrás, ganhador do prêmio do júri do festival de Sundance de 2004. Portanto, Upstream Color era um filme aguardadíssimo. E assim como o seu debut, temos aqui um filme excelente e confuso. Aqui ele também dirige, escreve, edita, atua, e inclusive compôs parte da trilha sonora.

Sempre que eu vejo um filme muito bom (bem, na maioria das vezes) e estou formando o que escrever sobre ele, eu gosto de ler críticas boas a respeito pra ver o que exatamente gostaram no filme (se foi o mesmo que eu) e como se expressaram sobre isso no texto. No caso de um filme confuso também, mas leio para buscar interpretações que façam mais sentido que as minhas. O seguinte pensamento sempre passa pela minha cabeça: "É exatamente isso que eu penso! Queria ter pensado nisso antes ou escrito isso primeiro." Depois de umas críticas profissionais sobre Upstream Color, ninguém falou o que eu achava até eu ler um comentário do IMDb, que leu a minha mente. É, eu sei. Inclusive o título do comentário é a citação do começo desse post. As outras críticas que li também foram bastante úteis. Eles expressam com precisão como me sinto sobre aspectos do filme, de tal forma que eu nunca conseguiria dizer.

Costumo iniciar uma crítica falando da história do filme. Com Upstream Color, isso é complicado. Como diz a crítica do AV Club, falar sobre o plot desse filme é uma futilidade cômica. Principalmente, porque, como diz muito bem a crítica do LA Times, Upstream Color é um filme de "um pouco de ficção científica assustador, um pouco de romance offbeat e um pouco completamente inclassificável." É um filme que "rejeita qualquer forma de narrativa convencional." Kris, nossa protagonista, é raptada e um verme é introduzido em seu organismo. O resultado é a hipnose profunda e total submissão a seu captor. Ele diz que ela não pode olhar diretamente para ele pois a cabeça dele é feita do mesmo material do que o sol e ela acredita. Ele diz para ela vender a casa e dar o dinheiro pra ele e ela faz. Um tempo depois, o captor (chamado no filme como O Ladrão) some. Ela é então atraída (e não vou nem falar como, porque né, futilidade cômica) para um homem (conhecido como The Sampler, que brinca criando sons e porcos) que "a cura". Kris tenta seguir sua vida, agora uma "versão assombrada e pouquíssimo funcional de si mesmo", e então Jeff aparece em sua vida. Jeff é interpretado por Shane Carruth e tudo que indica que seu personagem também passou por algo como Kris. Eles se juntam para tentar talvez buscar respostas sobre o que lhes aconteceu.


O que nos resta são interpretações. É engraçado mas para mim Upstream Color é um filme sobre detalhes, fé e principalmente religião e Deus. Outro comentário do IMDb conclui que é sobre "disobediência civil à sociedade atual e seu sistema social desumano" e sobre como "matar Deus é sinônimo de revolução contra o capitalismo." Ao invés de "a única forma de progredir", como eu e outro comentário concordamos.

Eu queria muito botar grandes partes do comentário que esse cara fez aqui mas, mesmo que tenha poucos spoilers, seria apenas um texto enorme sobre religião e Deus e não faria sentido pra quem não viu o filme.

Nota 9,5

The Hunt (2012)

Direção: Thomas Vinterberg
Roteiro: Tobias Lindholm e Thomas Vinterberg
País: Dinamarca

Que filme poderoso.

O mundo é cheio de acontecimentos terríveis e injustos, mas uma coisa que me irrita muito é quando uma pequena e boba mentira é capaz de destruir a vida de uma pessoa.

Lucas (Mads Mikkelsen, o Hannibal do seriado atual) é um professor numa creche. Ele mora numa cidade pequena da Dinamarca, todo mundo se conhece e ele inclusive dá aula pra filha de seu melhor amigo. Klara, a filha, gosta muito de Lucas. Um dia Klara manda uma espécie de carta inocente de amor (um coração desenhado, apenas) e ele fica constrangido e devolve. Ela não leva a "rejeição" bem, inventa uma historinha sobre o professor e, pronto, de repente ele é um pedófilo que abusou de várias crianças da escola.

O que sempre acontece é, claro, ninguém quer saber o lado do suspeito. "Eu conheço a minha filha, ela não mente." Não existem palavras pra expressar o quanto eu acho isso revoltante. Lucas passa então grande parte do filme tentando se explicar ou apenas lidando com o que a sociedade lhe impôs. 

The Hunt, porém, é sobre muito mais do que apenas isso. É sobre traição, paternidade e medo. É um filme que te deixa tenso e irritado; isso é uma ótima qualidade. A atuação de Mikkelsen está excelente (destaque pra cena da igreja) e a direção capturou bem a atmosfera fria da Dinamarca. E o final é sensacional. 

Nota 9,5

Side Effects (2013)

Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Scott Z. Burns
País: EUA

Próxima grande produção estrelando Rooney Mara, depois do sucesso da versão americana de The Girl with the Dragon Tattoo. Eu estava bastante ansioso mas fiquei decepcionado.

O tema de Side Effects é muito bom. Bem, o título meio que diz tudo. O personagem de Mara (Emily) sofre de depressão e é casada com Martin (Channing Tatum), que acaba de sair da cadeia. Por causa de sua condição, Emily começa a consultar o Dr. Jonathan (Jude Law), um psiquiatra. Ele sugere um remédio novo para Emily, que já estava sob outra medicação. Durante, então, os efeitos colaterais de toda essa química, ela faz um crime bem tenso (não é bem spoiler mas não vou falar) e é mandada para um hospício.

Side Effects fala sobre isso. De quem é a culpa, quando o criminoso/paciente reage mal a efeitos colaterais e faz coisas que nem lembra fazer? Culpa dele? Culpa de ninguém, porque é problema mental e ele não consegue controlá-los? Culpa do psiquiatra que recomendou um remédio desses?


O problema do filme é que, da metade pra frente, ele toma rumos desnecessários e acontece algo que acho terrível: muitos plot twists. Se vão ser poucos (ou o ideal, um só), ótimo, mas não bote vários. É praticamente um atrás do outro. 

Nota 7


Last Train Home (2009)

Direção: Lixin Fan
País: China / Canadá / UK

Pra qualquer um que não mora na Ásia, Last Train Home é um documentário de choque cultural. Uma cultura onde um adolescente de 17 anos decide por si mesmo abandonar o colégio e ir trabalhar, para ajudar a família e a si mesmo.

Durante o ano novo chinês, milhões de chineses que moram nas fábricas onde trabalham voltam para casa, pela única vez no ano, visitar suas famílias. São 130 milhões de pessoas e essa é a maior migração humana no mundo. Nesse documentário, acompanhamos apenas uma família. Os pais moram juntos e trabalham numa fábrica de roupas, enquanto na sua casa, no interior, seus filhos e uma avó cuida da casa e sobrevive. Uma adolescente mulher (menina do cartaz), um menino criança que está no colégio e uma avó de 60 anos. Esses três fazem todo o trabalho pra cuidar do sítio, como colher comida, lavar roupas, alimentar as galinhas, etc.

O processo de migração é brutal. 130 milhões, ou seja, é difícil comprar passagem. Se não conseguir, vai ter que esperar mais um ano pra ver a família. É tanta gente que é impossível não se perder, caso não esteja sozinho. Vemos filhos que conseguiram passar de uma grade, mas cujos pais ficaram pra trás. Vemos pessoas carregando malas e sacos enormes, chorando tamanho o estresse que esse processo causa, e não fazem nada a não ser andar pra frente, em direção ao próximo trem pra casa.

Em sua cena mais dramática, no segundo ano novo do filme (quando a filha já tinha decidido parar com os estudos pra trabalhar), a família discute e a filha diz coisas ofensivas, o que faz o pai bater nela e começam uma briga. Com a filha no chão chorando, a mãe, do lado, na mesma hora toma o lado do marido, dizendo "como tu ousas desrespeitar o teu pai, que trabalha todo o dia pra trazer dinheiro pra essa família?"

Nota 7.5

(Depois atualizo o post com o grid)

In the Mood for Love (2000)

Direção: Kar Wai Wong
Roteiro: Kar Wai Wong
País: Hong Kong / França

"Antigamente, quando as pessoas tinham um segredo, elas subiam uma montanha, achavam uma árvore, faziam um buraco nela e sussuravam o segredo nele. Então elas cobriam o buraco com lama. E deixavam o segredo lá para sempre."

In the Mood for Love é sobre isso. Um romance que nunca aconteceu. Chow e Su se mudaram para o mesmo prédio, no mesmo andar, e assim viram vizinhos. Chow tem uma esposa e Su um marido. Mas ambos cônjuges viajam com frequência a negócios então os nossos protagonistas estão sempre sozinhos. Então Chow e Su começavam a virar amigos.

O filme tem uma sensibilidade notável e é muito mais sobre companheirismo e lidar com a solidão do que sobre amor e paixão. Percebe-se isso pelo fato de, apesar de "se amarem", os protagonistas não se beijam uma vez sequer na frente da câmera. Não só isso, mas tudo que remete a um "caso" é bem escondido pelos dois. Afinal, pessoas fofocam. É como se fosse mau visto conversar e se divertir (nada nem perto de sexo) com alguém do outro sexo se o seu cônjuge não está presente. O fato do filme se passar na Ásia e nos anos 60 ajuda.

O final é particularmente melancólico (o que eu achei ótimo), pois se passa anos depois do que aconteceu e mostra como os personagens ainda estão afetados pelo que aconteceu.

Nota 9

(Outro filme que tive dificuldade em fazer o grid pois a protagonista é simplesmente maravilhosa, vide quarta imagem)


Ruby Sparks (2012)

Diretor: Jonathan Dayton e Valerie Faris
Roteiro: Zoe Kazan
País: EUA

Um filme sobre fantasias, o combate entre realidade e ficção, escrever e, bem, manic pixie dream girls.

Manic pixie dream girl é um termo usado para quando o seguinte acontece em ficção: temos um protagonista hétero, muito tímido e constrangido e então ele conhece, quase sempre do nada, uma moça alternativa, sempre bonitinha, normalmente com cabelo colorido, que imediatamente começa a gostar do nosso mocinho e tem a intenção de levá-lo à aventuras divertidas e a viver de verdade. Exemplos: Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, Garden State, Zooey Deschannel e basicamente todos os seus personagens.

A diferença de Ruby Sparks para qualquer outro filme com MPDGs é que a realidade do nosso protagonista (Paulo Dano) literalmente se mistura com a ficção do livro que ele está escrevendo (meio como acontece no excelente Stranger Than Fiction). Ele é um cara só, rico porque escreveu um livro quando jovem e fez muito sucesso. Mora sozinho com o seu cachorro. Então começa a ter sonhos que essa ruiva linda (Ruby Sparks, interpretada por Zoe Kazan) é sua namorada caída do céu. Ele tem a ideia de escrever sobre ela e sobre o romance que eles teriam. Afinal, quem não gosta de ter fantasias? Mas então ela saí das suas palavras, assume forma física e vira uma pessoa. A namorada sobre qual ele escrevia.

No começo é tudo perfeito, claro, afinal ele criou ela. Isso faz Ruby Sparks ter uma certa vantagem sobre os outros MPDG porque nos outros filmes tudo que acontece as vezes parece bom demais pra ser verdade. Mas nesse caso não é assim porque Paul Dano literalmente escreveu como as coisas vão ser então faz sentido elas serem perfeitas do ponto de vista romântico. Digo, ele escreveu que ela é sua namorada e isso implica que ela o ama.

(Mas é claro que esse romance perfeito não dura o filme inteiro.)


O final de Ruby Sparks é um pouco forçado mas tem uma cena logo antes dele que eu gostei bastante. Quando ele fala o monólogo do seu livro novo. Ele cita uma frase clássica que diz que o escritor, no seu melhor momento, sabe que as palavras não estão saindo de ti e sim por ti. No caso, como se ele fosse um veículo que expressa seus sentimentos. E é exatamente isso que acontece.

Nota 7

To Rome With Love (2012)

Diretor: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
País: EUA / Espanha / Itália

Acho que estou ficando sem saco para filmes novos do Woody Allen.

Quatro histórias separadas em Roma. Duas envolvem italianos, as outras são com turistas. Elas não se conectam mas isso não é bom nem ruim. O problema é que nenhuma delas é engraçada ou é relevante. A história de Roberto Benigni fala sobre como a fama é efêmera e sem sentido. A do próprio Woody (e Allison Pill, aquela linda) é terrível, fala sobre como as pessoas cantam bem enquanto tomam banho (ou morte, mas né). A da Penélope Cruz fala sobre um casal do interior italiano que se perde em Roma e acaba lidando com adultério e inocência. E a história mais interessante é a de Alec Baldwin, Jesse Eisenberg e Ellen Page que fala sobre a paixão entre jovens e carreira profissional.

O papel da Ellen Page e do Baldwin são as únicas vantagens de To Rome With Love. Ela faz uma pseudo-intelectual tentando seduzir Eisenberg mas Baldwin está lá sempre para "não deixá-lo cair em tentação" afinal Jesse tem uma namorada.


Filme longo demais e raros foram os momentos em que eu ri.

Nota 4.5

Zero Dark Thirty (2012)

Diretor: Kathryn Bigelow
Roteiro: Mark Boal
País: EUA

As pessoas tem que tirar da cabeça que esse filme é propaganda americana. Zero Dark Thirty é muito mais sobre persistência individual e ambição do que sobre "a vitória dos EUA sobre os terroristas". Sabe por que demorou uma década para que ele fosse capturado? Porque uma década depois de 9/11 ninguém mais se importava com Bin Laden. Ele estava desaparecido completamente, nenhuma pista levava a nenhum lugar, ninguém tinha certeza de nada. O nosso protagonista, o personagem da Jessica Chastain, era a única pessoa no CIA que ainda queria capturá-lo custe o que custar e nem na missão final ela tinha certeza de que Bin Laden estava no lugar. Era impossível ter certeza. Mas seu instinto sabia. E foi isso que ela fez.

Também não entendo quem reclama da promoção (?!) de tortura em Zero Dark Thirty. Vocês acham que eles conseguiram as informações que tinham como? Chá das cinco com o Al-Qaeda?


Filme muito bom. Um relato frio e objetivo sobre a "greatest manhunt in history." Novamente, bom trabalho, Bigelow.

Nota 9

Breve comentário sobre o Oscar: Chastain era pra ter ganho de Lawrence.


Man on Wire (2008)

Direção: James Marsh
Roteiro: Philippe Petit
País: UK / EUA

Documentário muito emocionante sobre um equilibrista que fez a façanha de ficar equilibrado (andando e brincando) entre as duas Torres Gêmeas por mais de quarenta e cinco minutos.

A paixão (e o sonho) de Philippe Petit por equilibrismo surgiu quando ele era criança. Um dia, ele foi ao dentista e, na sala de espera, viu uma revista onde falavam sobre a construção do World Trade Center, que não havia ainda sido iniciada. A matéria mostrava uma imagem do projeto. Ele rasgou a página da revista e foi embora. "Fiquei com dor de dente por uma semana, admito, mas o que era essa dor comparado com o sonho que eu tinha recém descoberto?", diz.

O primeiro feito marcante de Philippe como equilibrista foi andar entre duas pequenas torres da catedral de Notre Dame. 69 metros de altura. Eis uma foto do evento. A segunda vez foi na Austrália, na ponte do porto de Sydney. 134 metros. Foto. E, bem, o WTC tinha 417 metros de altura. Então ele, sua namorada e mais vários amigos e contatos passaram meses planejando como fariam isso. Afinal, o objetivo deles era ilegal e eles precisavam agir às escuras. Meio que literalmente pois ficaram a madrugada inteira no telhado das torres arrumando os cabos e preparativos. Na prática, foram apenas quatro pessoas para realizar o ato. Ele e outro amigo em uma torre, e mais dois na outra. Um deles era americano e não sabia falar francês. O resto do pessoal ficou lá em baixo esperando.

O mais impressionante sobre Philippe e todos os envolvidos é a dedicação e confiança que tinham na habilidade do equilibrista. Claro, ele não era o melhor do mundo, não era impossível dele cair. Mas quando ele estava no cabo, ele se sentia livre. Feliz. No seu lugar. Tanto que brincava lá de cima, em todas as situações, deitando no cabo, fazendo malabarismo com objetos, ajoelhava... Na primeira vez que Philippe viu as Torres Gêmeas, ele percebeu que era impossível. Ele, e todo mundo, ficou perplexo pela magnitude daquilo que queriam alcançar. Convenhamos, pensa bem. Um equilibrista entre as Torres Gêmeas? Quem se submeteria a isso? Por quê? Parece realmente impossível. Philippe nem mesmo tinha confiança em si mesmo, afinal, qualquer coisa pode acontecer lá. Ele pode dar um passo e cair e morrer. "Que morte linda seria". Muitas vezes os realizadores do feito concluíam isso, mas eles não iriam parar agora, iam?


É meio difícil descrever as emoções que Man on Wire passa. "Você tinha que estar lá." A namorada de Philippe diz que chorou quando viu ele, lá de baixo das Torres, num cabo finíssimo. Só imagino o sentimento dos amigos que estavam nos topos das torres, ali perto. Uma das imagens mais poderosas do documentário, e a namorada dele descreve, foi quando, lá no cabo, ele fez aqui que está mostrado na penúltima imagem do grid abaixo. Quando já estava seguro que sabia que estava fazendo, que não ia cair, quando já estava brincando no cabo, ele saúda a câmera. Como se fosse um ator no fim de uma peça de teatro, como se dissesse "eu estou aqui, apreciem-me." Pode não ser do seu jeito mais normal, mas isso é arte. Como não apreciar? Como descrever uma pessoa assim que simplesmente vai direto em direção ao seu sonho e o realiza dessa forma? 

Quando a polícia finalmente põe suas mãos em Philippe, e logo depois os repórteres, a mídia e, bem, todo mundo, a pergunta mais comum que lhe faziam era "Por quê? Por que você fez isso?" mas o equilibrista sabia que essa pergunta não tinha resposta. Ele apenas fez. Viu aquelas torres naquela revista quando criança e decidiu que iria fazer isso. E eu o aplaudo por isso.

Nota 9.5


Hunger (2008)

Direção: Steve McQueen
Roteiro: Steve McQueen e Enda Walsh baseado em fatos reais
País: Inglaterra / Irlanda 

Posto a capa do DVD da Criterion porque é muito mais bonita que o cartaz do filme (normalmente é).

Você conhece o IRA. Irish Republican Army. Nos anos 80, um grupo de prisioneiros do IRA protestaram contra o governo em busca de status político do grupo. O filme mostra Bobby Sands (Michael Fassbender) e como ele liderou a greve de fome que foi feita.

Quando eu vi Shame (2011) no TIFF, todo mundo me falava do antigo filme de Steve McQueen (inclusive estive numa Q&A com o diretor e o Fassbender!) mas só vi Hunger agora. As similaridades são claras. Em ambos filmes, Fassbender fez um protagonista um pouco frio, onde somente tem um propósito e objetivo. No caso de Hunger, que sua mensagem seja escutada e entendida, e no caso de Shame, bem, o orgasmo. A cinematografia, como vocês podem ver no grid que fiz abaixo, também é parecida. Fria, azul, distante.


Excelente filme. Fassbender tá muito magro, a nível de Christian Bale em The Machinist. Talvez mais.


Sobre o grid: Já vi pessoas fazerem isso sobre vários flimes e diretores e é sempre bem interessante e bonito. Vou começar a fazer isso dos filmes que vejo no computador.

Nota 8.5

Argo (2012)

Direção: Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio baseado em livro de Antonio J. Mendez e artigo de Joshuah Bearman
País: EUA

Baseado em fatos reais.

Lá pelos anos 70, os EUA já tinha a mania de "implantar a democracia" por causa de petróleo em países do Oriente Médio. Eles e o Reino Unido planejaram um coup d'état, tiraram o presidente do Irã do comando e botaram um substituto no lugar. A população, naturalmente, ficou furiosa e algum tempo depois, o substituto ficou seriamente doente. Os EUA tiraram o cara do país "para melhores cuidados" e enquanto isso os iranianos não tinham quem depor. Os revolucionários resolveram invadir e tomar conta da embaixada americana no Irã e capturaram vários reféns. Argo fala sobre os seis que conseguiram fugir.

Tony Mendez (Affleck) é um especialista de "exfiltração" do CIA, ou seja, ele entra disfarçado em situações para tirar pessoas de lá. Ele e seu chefe (Bryan Cranston) surgem com um plano para salvar os reféns, atualmente escondidos na casa do embaixador canadense, lá no Irã. E o plano deles é o seguinte: Affleck vai pro Irã como um cineasta canadense. Ele está viajando pelo Oriente Médio procurando locações para filmar uma ficção científica. Ele chega no Irã, o resto de seu grupo (os seis reféns) chegam no outro dia e, uns dias depois, todos vão embora do país juntos. Ou seja, eles terão de fingir que são diretores, cameramen, roteiristas e por aí vai. O problema é sair por aí (e passar por um aeroporto) numa cidade tomada pelas forças revolucionárias, quando todo país sabe que seis reféns fugiram e estão sendo procurados.

A melhor palavra pra definir Argo é tenso. A qualquer momento pode dar algum problema; alguém pode apontar pra você na rua gritando "é ele, é ele!" que todos se viram e danou-se. Não só isso como o filme também é uma corrida contra o próprio CIA pois alguns superiores não gostaram dessa ideia e pretendem montar uma armada para resgatar os reféns à força.

É daqueles suspenses que te deixam na beira da cadeira. Muito bom.

Nota 8

O Mestre (2012)

Direção: Paul Thomas Anderson
Roteiro: Paul Thomas Anderson
País: EUA

Finalmente vi no cinema (em pré-estreia!) o novo e altamente antecipado filme do mestre PTA, diretor do clássico moderno There Will Be Blood. Se este é tão bom por causa do ator principal ser Daniel Day-Lewis, Joaquin Phoenix (e Philip Seymour Hoffman) o substitui perfeitamente.

O Mestre tem dois temas centrais: o pós-guerra americano depois da Segunda Guerra Mundial e a origem dos cultos. Freddie Quell é um sujeito simples e fuzileiro naval que, como muitos soldados dos anos 50, só sabe matar pessoas. Então quando a guerra acaba e eles estão livres para fazerem o que quiserem e "começar negócios", ele fica meio perdido. Ele assume alguns hobbies e empregos como fotografia mas, novamente, como muito soldados dos anos 50, Freddie ficou traumatizado com a guerra e, bem, não funciona direito na sociedade. Ele cai na bebida. Em uma noite qualquer, ele entra de penetra em uma festa num iate. Ele dorme lá e no dia seguinte conhece o comandante Lancaster Dodd (Seymour), que, de acordo com o mesmo, é "um escritor, médico, físico nuclear, filósofo teórico, mas acima de tudo, um homem, como você."

Lancaster Dodd tem um "culto" chamado A Causa, que fala sobre aliens de trilhões de anos e viagens mentais no tempo, misturando hipnose com auto-ajuda. É, confuso, mas logo no primeiro encontro de Freddie com Dodd, quando Dodd percebe que encontrou um "discípulo e cobaia", vemos os métodos d'A Causa podem funcionar. Freddie vira o queridinho do grupo e, junto da família toda que inclui Amy Adams como esposa, eles viajam pelos EUA espalhando A Causa.

Com o passar do tempo, surge muito ceticismo. De acordo com críticos, Dodd não passa de um cultista, pois ninguém pode discordar dele e somente sua opinião é certa. Isso não é ciência. Até o próprio filho de Dodd acha que seu pai não sabe do que está falando e inventa coisas a medida em que abre a boca. Resta ao nosso protagonista Freddie distinguir mentira de verdade, gênio de lunático, ascenção de demência.


Atuações soberbas, trilha sonora pertinente, roteiro com sentido e direção, cinematografia, como de costume, única. Sem dúvida, O Mestre é um filme daqueles que pedem para ser revistos logo em que acaba. Vejam e vejam de novo.

Nota 9.5

Pitch Perfect (2012)

Direção: Jason Moore
Roteiro: Kay Cannon baseado em livro de Mickey Rapkin
País: EUA

Confesso que vi Pitch Perfect apenas por motivos de: Anna Kendrick. O roteiro foi feito por uma produtora de 30 Rock e BFF da Tina Fey, uma curiosidade.

Beca (Anna) está começando a faculdade. Ela faz remixes como hobby, adora música e seu sonho é produzir em LA. Sem nenhum amigo (novidade), ela procura formas de passar seu tempo e se depara com o glee club da faculdade formado inteiramente por mulheres, as Barden Bellas, principais rivais do grupo famoso e popular de rapazes chamado Trebletones. Como sempre, ela não tem interesse (até experimentar pela primeira vez)porque, né, glee clubs são babacas e cheio de otários. Nesse primeiro mês de "tentando se achar" na faculdade, ela conhece Jesse (o mocinho) e Fat Amy (Rebel Wilson e, sim, ela se chama assim e a explicação é uma das melhores piadas do filme, então não vou contar). Fat Amy entra no clube e Beca vai junto. E então inicia sua jornada de volta para o estrelato onde as Barden Bellas era respeitado e não um fracasso ultrapassado.

É um filme divertido, nada mais. As piadas (principalmente da Rebel Wilson) são boas e, pra quem gosta de musicais modernos (Glee), eu recomendo.

Nota 6.5

The Perks of Being a Wallflower (2012)

Direção: Stephen Chbosky
Roteiro: Stephen Chbosky baseado em livro dele mesmo
País: EUA

The Perks of Being a Wallflower é, em suma, um filme sobre ser jovem e solidão.

Charlie (Logan Lerman, o Percy Jackson dos filmes) acaba de começar o high school e, claro, ele não tem nenhum amigo e sofre bullying. Depois de algumas aulas, descobrimos que ele é colega do outro rapaz do pôster, Patrick (Ezra Miller, o Kevin de We Need to Talk About Kevin). Patrick é descolado, parece simpático e faz piada com tudo e todos, ou seja, Charlie quer ser amigo dele. Em uma noite qualquer, Charlie senta perto dele num jogo de futebol americano da escola. Eis que chega Sam (Emma Watson), amiga de Patrick, e Charlie logo se apaixona por ela (eles, na verdade).

Sabe quando você conhece um grupo de amigos e eles são tão engraçados e divertidos que você parece estar intoxicado (de um bom jeito) por eles e fica feliz simplesmente na presença dos mesmos? É isso que acontece. Em meio de festas e curtidas, conhecemos mais sobre o passado de cada personagem, principalmente de Charlie e Sam, claro, o casal protagonista. Naturalmente, Sam começa a namorar outro cara e o mesmo acontece com Charlie (ele namora Mae Whitman, a Maeby de Arrested Development, que faz um personagem ótimo).

Um filme sobre adolescência e conformismo, expectativas e traumas. Aprovado.


Nota 7.5

God Bless America (2011)

Direção: Bobcat Goldthwait
Roteiro: Bobcat Goldhwait
País: EUA

Pela sinopse desse filme, você já sabe que ele é de humor negro. O protagonista está pra morrer e decide sair matando todo mundo que julga "ser o câncer da sociedade." Gente que atende celular e falan normalmente durante um filme no cinema. Vizinhos com a TV muito alta e um bebê que não para de chorar. Adolescentes da MTV com seu próprio reality show que reclamam pros pais que eles deram o carro errado pra ela. Gente que reclama não ter ganho um iPhone no Natal. 

Na primeira cena de God Bless America, em uma fantasia, o protagonista invade o apartamento vizinho e mata com uma escopeta o tal casal e, com um sorriso na cara, inclusive o bebê que não parava de chorar. Nessa hora você pensa "OK, vai ser esse tipo de filme." Felizmente não é bem isso, em diversos outros momentos, Frank, o nosso protagonista, faz discursos para os colegas ou amigos sobre como a sociedade atual (ou americana, convenhamos) é tóxica e não tem mais valores. No final do post vou postar um pedaço de um diálogo com o qual concordo bastante para mostrar o tipo de opinião que o filme expressa.


O que dá errado então em God Bless America? Primeiro, pelo menos pra mim é muito óbvio que todas as opiniões do filme são as opiniões do roteirista/diretor (ou, se não são, ele apenas copiou o que dizem) e isso nunca é bom. Se você quer reclamar do mundo, faça um blog ou escreva um livro a respeito. Não crie um personagem que é como você gostaria de ser. O mesmo acontece com o seriado The Newsroom, por exemplo, onde claramente as opiniões do protagonista são as mesmas de Aaron Sorkin. Em segundo lugar, se ele reclama tanto da sociedade ser "edgy", sair matando todo mundo que é chato é extremamente edgy. Você vai matar aquele cara só porque ele não ligou o pisca na hora de dobrar? Como você é radical, cara. Não quero discutir "os problemas da sociedade" aqui (até porque acredito que não tem solução) mas ninguém te força a ver TV ou a ver filmes ruins, então quando você reclama deles você só está sendo um pé no saco. Vá morar no meio da selva.

Naturalmente, por ser uma pessoa com bom senso, eu concordo com quase tudo que o protagonista diz. Mas né. Vou colar aqui o pedaço de diálogo que eu mais gost


Office Worker: So, you're against free speech now? That's in the Bill of Rights, man. 

Frank: I would defend their freedom of speech if I thought it was in jeopardy. I would defend their freedom of speech to tell uninspired, bigoted, blowjob, gay-bashing, racist and rape jokes all under the guise of being edgy, but that's not the edge. That's what sells. They couldn't possibly pander any harder or be more commercially mainstream, because this is the "Oh no, you didn't say that!" generation, where a shocking comment has more weight than the truth. No one has any shame anymore, and we're supposed to celebrate it. I saw a woman throw a used tampon at another woman last night on network television, a network that bills itself as "Today's Woman's Channel". Kids beat each other blind and post it on Youtube. I mean, do you remember when eating rats and maggots on Survivor was shocking? It all seems so quaint now. I'm sure the girls from "2 Girls 1 Cup" are gonna have their own dating show on VH-1 any day now. I mean, why have a civilization anymore if we no longer are interested in being civilized? 

Nota 7