Upstream Color (2013)

Direção: Shane Carruth
Roteiro: Shane Carruth
País: EUA

"Matar Deus é a única forma de progredir."

Esse é o segundo filme do diretor Shane Carruth. A mesma mente que criou Primer, antes atrás, ganhador do prêmio do júri do festival de Sundance de 2004. Portanto, Upstream Color era um filme aguardadíssimo. E assim como o seu debut, temos aqui um filme excelente e confuso. Aqui ele também dirige, escreve, edita, atua, e inclusive compôs parte da trilha sonora.

Sempre que eu vejo um filme muito bom (bem, na maioria das vezes) e estou formando o que escrever sobre ele, eu gosto de ler críticas boas a respeito pra ver o que exatamente gostaram no filme (se foi o mesmo que eu) e como se expressaram sobre isso no texto. No caso de um filme confuso também, mas leio para buscar interpretações que façam mais sentido que as minhas. O seguinte pensamento sempre passa pela minha cabeça: "É exatamente isso que eu penso! Queria ter pensado nisso antes ou escrito isso primeiro." Depois de umas críticas profissionais sobre Upstream Color, ninguém falou o que eu achava até eu ler um comentário do IMDb, que leu a minha mente. É, eu sei. Inclusive o título do comentário é a citação do começo desse post. As outras críticas que li também foram bastante úteis. Eles expressam com precisão como me sinto sobre aspectos do filme, de tal forma que eu nunca conseguiria dizer.

Costumo iniciar uma crítica falando da história do filme. Com Upstream Color, isso é complicado. Como diz a crítica do AV Club, falar sobre o plot desse filme é uma futilidade cômica. Principalmente, porque, como diz muito bem a crítica do LA Times, Upstream Color é um filme de "um pouco de ficção científica assustador, um pouco de romance offbeat e um pouco completamente inclassificável." É um filme que "rejeita qualquer forma de narrativa convencional." Kris, nossa protagonista, é raptada e um verme é introduzido em seu organismo. O resultado é a hipnose profunda e total submissão a seu captor. Ele diz que ela não pode olhar diretamente para ele pois a cabeça dele é feita do mesmo material do que o sol e ela acredita. Ele diz para ela vender a casa e dar o dinheiro pra ele e ela faz. Um tempo depois, o captor (chamado no filme como O Ladrão) some. Ela é então atraída (e não vou nem falar como, porque né, futilidade cômica) para um homem (conhecido como The Sampler, que brinca criando sons e porcos) que "a cura". Kris tenta seguir sua vida, agora uma "versão assombrada e pouquíssimo funcional de si mesmo", e então Jeff aparece em sua vida. Jeff é interpretado por Shane Carruth e tudo que indica que seu personagem também passou por algo como Kris. Eles se juntam para tentar talvez buscar respostas sobre o que lhes aconteceu.


O que nos resta são interpretações. É engraçado mas para mim Upstream Color é um filme sobre detalhes, fé e principalmente religião e Deus. Outro comentário do IMDb conclui que é sobre "disobediência civil à sociedade atual e seu sistema social desumano" e sobre como "matar Deus é sinônimo de revolução contra o capitalismo." Ao invés de "a única forma de progredir", como eu e outro comentário concordamos.

Eu queria muito botar grandes partes do comentário que esse cara fez aqui mas, mesmo que tenha poucos spoilers, seria apenas um texto enorme sobre religião e Deus e não faria sentido pra quem não viu o filme.

Nota 9,5

4 comments:

Anônimo disse...

Esse filme é horroroso. Cinema é entretenimento (e é o minimo que espero), porém, com esse filme, em 20 minutos quase desmaiei de tanto sono (ou tédio). Pode falar em filosofia, técnicas, fotografia, idéia, etc... Mas como entretenimento falha feio... Para resumir uma porcaria de filme...

Al disse...

Caro Anônimo, cinema nunca foi nem será entretenimento, cinema é arte pra criar buracos no cérebro, fazer pensar diferente... o que é entretenimento é a grande parte da mercadoria produzida pela industria de Hollywood... que a gente pode chamar até de filmes, mas não de Cinema.

Lucas Gaspar disse...

O Anônimo acima é de fato uma pessoa que não suporta algo pois tem uma ideia por detrás da coisa: cinema é entretenimento.
Já para mim, como para você, cinema é arte.
Eu vejo muito deus nessa coisa maestrosa de filme, mas vejo também muito Darwin. De fato a coisa de perpetuar espécies é para lá de ecologia (o termo de fato, e não o comumente usado para definir uma consciência que é favor do ambiente).
Dos melhores filmes que assisti. A nota 9,5 é exata. Vimos o mesmo filme.

Juan Rossi disse...

Procurei melhores filmes de sci-fi e encontrei um candidato à altura, porém muitíssimo mais bonito em termos cinematográficos e artísticos. A trilha, fotografia, direcionamento e falta do mesmo nesta magnífica película fez-me ficar do começo ao fim sem parar, hipnotizado e perplexo, a assisti-la! Interessantes junções/justaposições de imagens/ideias a nos rodar na cabeça devaneios/implicações infindas sobre nós como seres na Terra e seres uns com os outros. Casal impossível e ao mesmo tempo tão verossímil, fazendo-nos repensar que a cotidianeidade não precisa ser tão chata todo o tempo, há interligações e novos links que podemos achar ao nos conectar a todos! Bonito trabalho e reinterpretação do dia a dia acachapante de nossos embotados empregos e casas. Quase uma obra prima!

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