Encounters at the End of the World (2007)

Título Original: Encounters at the End of the World
Direção: Werner Herzog
Roteiro: Werner Herzog
País: EUA

Pulei uns filmes porque preciso falar sobre esse. E, OK, esse vai ser um post grande.

Conheço pouquíssima coisa do Herzog, mas sempre gostei dele. Um dia então, enquanto via sua grande lista de filmes, notei que a maioria dos recentes são documentários e um amigo meu me recomendou esse tal encontros no fim do mundo. Documentário sobre a Antártica? Eu topo, afinal gelo, neve, frio e lugares assim sempre me agradaram - de ver em fotos e imagens, pelo menos.

Uma coisa que é preciso saber desde o começo é que os documentários do Herzog não são normais. Não é ele simplesmente falando sobre algo e mostrando como essa coisa é. Ele interpreta tudo. Ele dá as suas opiniões e assim você consegue ver o que é exposto da forma que ele quer. Por exemplo, em uma cena, ele está com um grupo de mergulho. E durante as preparações, ninguém falava nada. OK, nada demais. Mas então Herzog fala, em off, que os caras fazendo aquilo, algo que acontece quase todos os dias com eles, o lembrava de padres se arrumando antes de dar uma missa. E você pensa "realmente." E durante o documentário todo, ele faz esses eventuais comentários e é sempre algo.. interessante e, por certo lado, simbólico.


O filme começa na Estação McMurdo da Antártica, um centro de pesquisa americano do tamanho de uma pequena cidade, como vocês podem ver aqui. Lá, Herzog entrevista vários cientistas. E aí você já começa a notar detalhes interessantes. É o mais variado tipo de pessoas possível. Ninguém é simplesmente um cientista que quer trabalhar na Antártica. Filósofos, índios, gente que passou a vida inteira viajando sem nenhum plano maior. Aventureiros, idealistas, misantropos e gente de bem com a vida. Herzog logo então começa a "passear" pela "ilha", sempre com ajuda, claro, e nos mostra imagens lindíssimas e únicas. Encontros no Fim do Mundo nos exibe animais jamais vistos antes, lugares que a humanidade nunca foi. Mensagens e trilhas de exploradores de décadas atrás fizeram.

Vou falar um pouco agora sobre a minha cena favorita (que é muito triste e me fez chorar até) do filme e eu recomendo a leitura dela. Ela não tem relação com a "história" do filme, pode ser considerado spoiler mas não vai arruinar o filme para você. Se já consegui te vender o filme, não precisa ler esse parágrafo, veja o filme e venha aqui depois. Enfim, leia se quiser. A melhor cena de Encontros no Fim do Mundo, na minha opinião, é quando Herzog visita uma colônia de pinguins. O cara que supervisiona o local é bem quieto, já está mais acostumado a conviver com esses animais do que com humanos. Ele comenta que, na colônia, nesse exato momento, só tem machos. Eles estão com os ovos à espera das fêmeas do mar. O especialista diz que os pinguins dali, se me lembro bem, tem duas opções: ou cuidam dos ovos e esperam ou vão para o oceano por si sós. A maioria fica ali mesmo mas aí a câmera pega um grupo que está indo embora. São uns 5 ou 4 pinguins. Após se afastarem alguns metros da colônia, dois param e um resolve voltar. O outro então fica ali parado, indeciso. Ele parece tão triste, ali sozinho. Sem saber o que fazer. Então, assim do nada, ele começa a correr sem parar em direção das montanhas. Láááá longe. Muitos e muitos quilômetros de nada até lá e, mesmo depois delas, também, nada. Sozinho. É como se o pinguim tivesse visto a felicidade em forma física em cima das montanhas. É como se ele tivesse visto a Morte lá em cima mas não sabe o que acontece quando chega nela. Ele corre e corre e corre. Sozinho. Correndo até sua morte, diz Herzog. Mas... por quê? Por que ele vai pra lá, instintivamente sabendo que vai morrer? Por que só ele? O que o fez fazer isso? Ele simplesmente perdeu a esperança e resolveu fazer uma última aventura? Desistiu? Fugiu? Cansou? Não existem respostas para essas perguntas.

Para a minha surpresa (ou não), depois de ver o filme, fui na internet e vi que muitas pessoas também acharam essa cena a mais marcante do documentário. Inclusive li comentários bem interessantes. "Esse é o pinguim mais louco ou mais são de todos." "Senti-me triste e feliz ao mesmo tempo pelo pinguim, ele vai experimentar coisas antes de morrer que nenhum dos outros da colônia vai." Um dos comentários em particular me chamou atenção: "Eu achei muito triste mas ao mesmo tempo a cena mostra que, apesar de 'programados' a fazer certas coisas, como criar famílias, certos animais (humanos inclusos) simplesmente não foram feitos para 'se encaixar' e ser como os outros."


Eu fiquei desacostumado com essa cena. Já vi um filme (um drama muito bom, inclusive, emocionante e bonito) depois mas toda ficção agora parece tão falsa. Aquele pinguim realmente morreu lá. Era inclusive lei do lugar não interferir com os pinguins de nenhuma forma. Ele foi para as montanhas e não encontrou nada. Não tem como uma obra de ficção passar um sentimento assim. Pode ser a coisa mais triste do mundo, mas você sabe que é de mentirinha. Pois é, essa é a moral dos documentários. As coisas acontecem.

Sinceramente, sinto que qualquer nota 9 é pouco. Vou rever no fim de semana e então vejo se pode ser considerado impecável. Por enquanto..

Nota 9.9

1 comments:

Max Cirne disse...

Depois dessa campanha, quero muito assistir.

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