Direção: Sean Penn
Roteiro: Sean Penn baseado em livro de Jon Krakauer
País: EUA
O que é liberdade pra você? Ter um dia livre pra fazer o que quiser? Férias? O horário de almoço no trabalho? Matar aula? Saber que você pode ir pra rodoviária e viajar pra qualquer lugar do país e, se quiser, não avisar ninguém? Agir como se não estivessem olhando? Fazer um inesperado mochilão sozinho, com o total desligamento da sociedade e sua fixação por futilidades como materialismo e consumismo? Pois pra Chris McCandless, ultimate freedom era exatamente essa última opção. "A vida é mais do que relações pessoais." E foi isso que ele fez.
Chris McCandless (Emile Hirsch) é um inteligente e curioso estudante de West Virginia. Ele não é como a maioria dos seus colegas; não se importa muito com, digamos, ter um carro novo ou ser descolado. Ele prefere a companhia dos seus livros, personagens e citações pertinentes que menciona em diversos momentos. Ele, porém, é muito próximo de sua irmã (Jena Malone) e junto dela teve uma infância e pré-adolescência.. perturbada. O pai (William Hurt) trabalhava pra NASA e, pelas suas inovações, ganhava muito dinheiro, algo que deixava a família sempre querendo mais. Um aposento a mais na casa, um aparelho mais moderno e tecnológico. Então, num dia qualquer, Chris finalmente se forma no colégio. Ele tem mais 24 mil dólares guardados pra faculdade. Mas ele resolve doar tudo e fazer um mochilão, a pé, até o Alaska, sozinho e sem avisar ninguém.
Na Natureza Selvagem mostra sua jornada (real) de mais de um ano até seu destino. Grande parte da graça dela, claro, está nas pessoas que conhecem nessa aventura. Muitos atores legais fazem esses coadjuvantes, como Vince Vaughn, Zach Galifianakis, Catherine Keener e (lol) Kristen Stewart. A outra parte da graça está em tudo que ele vivencia sozinho. Paisagens lindíssimas, lugares onde não se vê nenhuma outra pessoas em muitos e muitos quilômetros. Sem muita tecnologia e conveniências sociais (por opção, claro), ele vive, no meio da natureza. Mata e come animais da floresta, sente o mesmo calor do fogo mas com uma satisfação completamente inédita quando faz, com sucesso, uma fogueira. Tudo tem um sabor diferente (e não falo só sobre comida) quando feito pelas próprias mãos, sem auxílio ou supervisão de alguém. Tudo é uma pequena conquista.
Fazia um bom tempo que eu não via um filme com tantas cenas tão emocionantes. Sean Penn como diretor fez um trabalho sensacional. Sei que o crédito deve ir praticamente quase todo para o livro, mas o filme também tem o seu. Ainda mais em uma obra assim. Quão bem palavras podem descrever um lugar assim? A trilha sonora também é excelente, toda composta por Eddie Vedder. Enfim, é tudo sensacional. Quero muito ler o livro. E vejam o filme. It will make you wonder.
Não é muito relevante, mas é algo que quero comentar e me lembrei durante a minha segunda vez vendo Na Natureza Selvagem. Por certo lado, eu concordo com o protagonista. Tenho certeza que não é só comigo que é frequente a vontade de abandonar tudo e quebrar essas correntes que nos prendem a esse nosso entediante e worthless estilo de vida atual. Vontade de, não sei, simplesmente desistir de qualquer tipo de contato com as outras pessoas. Mas, por outro lado, é disso que tudo se trata. Pessoas. Se não fossem elas, não existiria aquela arma pra você usa pra caçar, ou aquela música fantástica que você tanto gosta. As cenas mais emocionantes do filme, justamente, envolvem quem Chris conhece no caminho. E é daí que me veio uma citação de um outro filme (Antes do Amanhecer, do Richard Linklater) em mente. "Eu acredito que, se existe algum tipo de Deus, ele não estaria em mim, ou em você, mas sim no espaço entre nós. Se existe algum tipo de magia nesse mundo, ela está na tentativa de entender alguém enquanto compartilham algo. Eu sei que é praticamente impossível de acontecer, mas quem se importa? A resposta deve estar nas tentativas." E é exatamente por isso que você acorda todos os dias, vai pra rua, estudar ou trabalhar, e acaba conversando com outras pessoas. Essa tentativa. Talvez algo aconteça. Quem sabe?
Vou acabar o post com uma mudança de assunto. Uma das várias citações famosas que Chris usa. Quando perguntado pelos estranhos recentemente conhecidos sobre família e dinheiro, Chris citava Thoreau. "Antes de amor, dinheiro, fé, fama, justiça... dêem-me a verdade."
Nota 9.7
1 comments:
O livro é mais pesado, mas é praticamente a mesma coisa. Acho que o final choca mais no livro também.
Ainda assim, Sean Penn fez um trabalho formidável com essa adaptação. O carisma do "Alexander Supertramp" é o mesmo nas duas mídias. Mas pra mim o fundamental no filme foi a trilha. Tio Eddie foi genial.
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